quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

"Um pedido, um desejo, uma cor..."

        Bom, depois do fim de semana coincidente com as festas do Natal, passamos pela última semana do ano e pelos preparativos das festividades do dia 31 e para a chegada do dia primeiro do ano a ser parido. E como diz (e provavelmente mal "interpretando") a Bíblia, a humanidade sofre as dores de um parto sem saber o que lhe caberá no porvir. Talvez seja por isso (pela não certeza do que virá) que muitos projetam nas cores do último vestuário do ano seus desejos para o próximo período.
        Dinheiro, amor, saúde e paz, não necessariamente nessa ordem, cada um com sua cor correspondente diante da importância causal e casual na vida das pessoas. Crentes disso ou não, o fato é que muitos tentam a sorte na virada, se der certo, ótimo; se não, no próximo réveillon troca-se... o pedido, a tentativa, a fórmula etc.

Ramiro Teixeira.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

"Velho e novo..."

         Ocidente, América Latina, América do Sul, Brasil. E temos o nosso tempo medido por eventos populares. Embora nos guiamos por dias da semana, por meses e anos, as datas comemorativas pressionam de maneira ímpar a organização do nosso tempo, e cada uma traz sua maneira particular das pessoas viverem tal data.
         Algumas ainda têm a artimanha de se prolongarem por mais dias, assim temos as festividades natalinas. Essas comemorações já começam a ser pensadas pelo menos já no início de novembro, além das tradições culturais que as sustentam, nascimento de Cristo e outras incorporadas pelos comerciantes, os demais as encaram como o começo de algo, portanto, a celebração de uma novidade, e para tanto "sugere" uma nova roupagem, roupas novas.
          É um tal alvoroço em comprar roupas novas, porque essa época não pode passar em branco e muito menos com repetições, e começa a corrida para não decepcionar (talvez o ego, no bom sentido!). 
     Coisas velhas, tempos novos, coisas novas, e temos a mescla das movimentações do seres humanos em suas mais variadas maneiras de encararem suas realidades, sejam festivas ou de outros tipos.

          Crítica ou não, aí está "Velha roupa colorida", Belchior:

"Você não sente nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem novo
Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer

(...)
No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais
No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais"


Ramiro Teixeira.

domingo, 11 de dezembro de 2011

"Os retratos..."

       Constatamos uma recorrência dos registros fotográficos tomando conta dos encontros entre amigos. Ora, fotografia não é uma invenção tão recente assim, porém, com todo aparato tecnológico moderno, máquinas digitais, e tantas parafernálias que eu não me arrisco a nomear, não por discordar, mas por falta de acompanhamento do ritmo com que são lançadas no mercado consumidor. Resoluções de alta qualidade e programas de softwares como suportes para manipular qualquer tipo de imagem e deixá-la de acordo (ou quase) com o que nossa mente gostaria que fosse.
      Com a facilidade da divulgação nas redes sociais da internet, então, torna-se tão mais próximo compartilhar os seus momentos triviais quanto os de maior repercussão. São registros de praticamente todos os passos do indivíduo, da pessoa, do seu grupo. De fato, se não fossem tais lembranças capturadas em uma caixinha que seja, como seriam repassadas as informações do tempo presente? Ah, o homem certamente reinventaria sua mídia.
       E para quem são repassadas as imagens ampliadas por uma "simples" placa tecnológica? É o desejo de todos saberem sobre a vida de todos ou a necessidade do indivíduo de demonstrar algo?

Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"Hoje..."

    Por vezes me estala a consciência às realidades e percebo o quanto de diversidade há em nossas ideias, seja lá a que estejam relacionadas, se ao planejamento direcionado a um longo prazo ou se a objetivos para serem alcançados em em único dia prestes a nascer. Ainda que com apenas essas duas variáveis escolhidas aqui, nos é apresentada uma gama de possibilidades tanto para a idealização como para a realização dos nossos empreendimentos. E aqui cabe uma boa ponderação quanto ao que traçamos como meta e como meios para chegar a um dado ponto referencial, pois ao longo dos nossos passos pode nos ser proposto um novo traçado de vida (devida).
     Ora, dependendo da esfera ou da parcela da sociedade onde vive o indivíduo em seu grupo ou na qual ele mantem suas relações com as pessoas, os referenciais e os meios para alcançá-los mudam, os projetos que arquiteta em sua mente podem seguir as possíveis influências daquilo que o rodeia, e, assim, ilustrar um dia com outros tipos de combinações entre as mesmas cores utilizadas talvez por outro personagem. Portanto, o dia anterior e o dia que se espera são forjados a partir de expectativas criadas por um conjunto de variáveis que acompanham o ser humano. 
    Porém, todas essas especulações podem cair por terra quando de fato chegam no dia de hoje. É somente neste que decisões podem ser de fato tomadas e postas em execução, concretizadas ou não, e ainda serem reavaliadas e sofrerem adaptações. Seria, com isso, talvez, um ato falho atender o hoje no dia que o antecedeu ou no dia que poderá ser seu sucessor. Variáveis de dia, variáveis de contexto, variáveis de pensamentos e de pessoas.
      Mesmo com a ciência de todas as possibilidades de agir, o ser humano surpreende em soprar as mesmss acordes, mas em sequências diferentes.

"Hoje a vida aconteceu em mim, o sol sorriu e me abraçou, me deu um abraço de calor, vejo uma vontade de viver e descobrir que a vida é todo dia assim"; "O grande segredo da vida é viver o dia" - frases de um poeta eclesiástico que não se toma por importante a ponto de cobrar sua menção autoral nessas frases em aspas.

Ramiro Teixeira.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

"Indivíduo no Brasil..."

“instrumento de uma sociedade onde as ralações pessoais formam o núcleo daquilo que nós chamamos de ‘moralidade’ (ou ‘esfera moral’), e tem um enorme peso no jogo vivo do sistema, sempre ocupando os espaços que as leis do Estado e da economia não penetram” (Carnavais Malandros e heróis p. 151, Roberto Da Matta). Prevalece, pois, a posição política e social, onde a revelação da identidade social evita a igualdade perante a lei e evita o sistema da totalidade.


Ramiro Teixeira.

sábado, 19 de novembro de 2011

"silêncio social..."

          "...não existiria som se não houvesse o silêncio...", Certas coisas-Lulu Santos.
         
       Ora, os estudos antropológicos nos dão uma boa contribuição para uma possível compreensão dos acontecimentos sociais. Os pares de oposição, como direito/esquerdo, dentro/fora, alto/baixo, entre tantos outros, são designações interdependentes, muito embora com algumas ressalvas cujas citações não precisam ser feitas aqui nem agora. Pois bem, só temos a noção do que é "dentro" por que sabemos que existe um espaço situado "fora", e vice-versa, e da mesma maneira com as outras duplas divergentes.
         Voltando ao "silêncio e som", sempre me perguntei qual a melhor forma de pedir silêncio: se cruzando os lábios com o dedo indicador, fazendo com a boca um traçado em forma de cruz ou sinal de soma, libertando um "xiiiiiii"; se falando mais alto do que o barulho em volta, e literalmente pronunciando silêncio; ou se simplesmente calando até que o silêncio de um seja percebido pelos demais.
        E como é dito mundo a fora, "quem cala consente", o silêncio também pode ser encarado como resposta "concordata" ao que está sendo proposto;  porém, o silêncio pode ser um tal desprezo da parte de quem recebe uma proposição, porque também é pressuposto de indiferença.
         Enfim, silêncio e som, antagônicos, complementares, intencionados ou não, sempre causam um certo furor em quem participa do mesmo espaço no qual eles figuram.

Ramiro Teixeira.

sábado, 29 de outubro de 2011

"No campus estudantil..."

         "Mas que trocadilho infame", como costuma cantar Belchior.
      Suspeitas de fraudes na prova do ENEM (mais uma vez) e ação dos estudantes na USP. Como para todos os assuntos sobre os quais se estendem maiores discussões acaloradas, sobretudo quando delas participam uma considerável quantidade e diversidade de sujeitos com suas expressões e opiniões, talvez complementares até, também para aqueles temos quantas leituras possíveis forem que procuram explicar suas razões, defendendo suas ideias, muito embora sejam reflexões a respeito dos acontecimentos pontuais, limitando-se ao tempo presente.
          Ora, sobre o ENEM temos uma medida que tenta subsidiar (e olha que os nossos dicionários trazem subsídio como um "socorro") ao que já em primeira mão não está sendo oferecido aos cidadãos, garantia de educação para todos, visto que "todos são iguais perante a lei" (Constituição Federal, 1988), portanto mais do que tão somente o mérito de averiguar se houve corrupção ou não na aplicação das provas, poderia se pensar por que não há vagas no ensino superior (e de qualidade!) para todos, fazendo-nos crer na boa atitude de selecionar os estudantes através de um exame investigativo dos últimos anos de estudo cujo nome de batismo é Ensino Médio.
          Na USP, tem-se o estopim, como em toda grande movimentação com seu momento de deflagação, na prisão de alunos que portavam maconha. Mas, será mesmo que o motivo da revolta dos estudantes provêm desse ato, que para eles é um abuso do poder de polícia (reflexão que também nos rende boas discussões!), ou o descontentamento com as medidas político-administrativas da Universidade tem um fundo de verdade bem mais relevante e remetente a um passado não tão próximo?
          De fato, questionamentos implícitos neste jogo onde só estão à nossa vista nua os fatos que percorrem os veículos midiáticos, porém, não são precisos maiores esforços para percebermos o emaranhado de falcatruas que escondem a raíz desses problemas, entre outros, deficit na educação formal, forjada sobre os escombros nada aceitos do saber popular, oriundo de uma tão má vontade política estrutural (em consolidar segmentos da sociedade brasileira) preocupada com apenas um de seus investidores, a iniciativa privada dos poucos grandes proprietários, esquecendo seus outros financiadores, os impostos pagos pelos muitos pequenos trabalhadores e contribuintes dos cofres públicos.

Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

"12 de outubro, mais um dia de Aparecer..."

          12 de outubro, notadamente feriado nacional por ser dia da padoreira oficial do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. E como toda data de descando tal qual esta, talvez não pela motivação inicial, mas pelo que se segue, supõe-se um tal tempo livre no qual alguns indivíduos ou mesmo em composição de grupos dispõem para relizar diversas atividades.
       Bem, há uma bela discussão quanto às consequências dos feriados nacionais e locais no pais. Uns defendem-nos, apoiados na tese de que os trabalhadores, apenas para citar uma categoria entre as várias existentes na sociedade brasileira, têm uma carga horária de trabalho já bastante alta e merecem, portanto, uma folga extra, além de se tratar de um evento referente aos valores culturais do povo no qual estão consituídos. Os que não corroboram com a ideia da folga extraordinária quando o feriado é em dia útil alegam ser um dia a menos na produção econômica do país, sendo, assim, um atraso para a economia.
         Não entrando no mérito deste debate, embora suscite amplas reflexões, temos a propagação de como alguns vários grupos vivenciaram o feriado. Movimentações, intituladas "Marcha contra corrupção", em cidades brasileiras reivindicavam, entre outras pautas, o fim do voto secreto em algumas eleições entre nossos representantes e a aplicação da ficha limpa. Denunciavam, sobretudo, a prática da corrupção dos nomeadamente políticos, eleitos nas urnas (eletrônicas, não imagine-se, talvez, as práticas da República Velha, eleitores fantasmas, entre outras; atualmente a alienação eleitoral se dá de outras formas, mas o voto está como direito individual, ainda que considere uma idade mínima para tal).
        Para a palavra "corrupção", segundo alguns dicionários, temos quatro possíveis significados: depravação, suborno, alteração e sedução. Descrições que trazem a ideia de mal procedimento diante de um situação cuja atitude esperada é a de promover outras ocasiões favoráveis à maior parte da sociedade ou parcela desta que esteja diretamente envolvida nas consequências das decisões tomadas. Tal alteração se dá a partir da aceitação de um estado de proveito pessoal e da visão de quem a pratica de que usufruir individualmente dos direitos destinados a outrem, privando-o(s), senão totalmente, ao menos em parte, mas ainda assim se trata de desvio do bem alheio, não implicará em retaliação significativa, devido à alta taxa de impunidade recorrente em meio à sociedade.
          Enfim, reclamava-se por uma boa conduta no tratado dos direitos do povo e para o povo, isso é totalmente válido e louvável, porém, uma pequena parcela em favor do todo era quem travava (ou trava) o embate, mas, não por isso é ilegítimo nem posto à total reprovação. Um trabalho em conjunto e, talvez, com maior eficácia e eficiência, seria o próprio povo, a parcela que não escancara da mesma maneira, mesmo no seu espaço micro no qual vive seu social, conhecer os espaços nos quais deve e pode atuar e os meios para assim o fazer, levantar a voz e articular os braços.

Ramiro Teixeira.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"Decorrências..."

     Se as políticas públicas promovidas pelo Estado (ou órgãos governamentais) consistem em tentativas de diminuírem as diferenças decorrentes entre os cidadãos ou entre as categorias que constituem a sociedade, isso não está passando de tentativas. 
     Seria, portanto, o caso de se pensar numa sociedade às avessas ou somente reformadora das questões políticas (públicas e privadas) ou é exagero? ou já houve muito quem pensasse essas problemáticas?
       Enfim...


Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

"Palavras e palavras..."

        Depois de uma longa, e acredito produtiva, discussão sobre Didática, feita por alunos ainda bastante iniciantes no campo acadêmico, dos quais também faço parte, talvez como um dos mais confusos e inconstantes, e com intermediação de um professor, não diferente, novo e com apenas uns poucos anos a mais de "coluna, olhos e punhos calejados" frente ao exercício de leitura e interiorização dos infindos e complexos escritos científicos, porém, com o ar e discurso de quem conhece muito, e de fato conhece, mais uma vez cheguei à conclusão das "armadilhas" presentes nos conceitos explicativos nas palavras.
       Conhecimento, inteligência, ciência, preconceito, inferior, comparação, e todas as outras utilizadas, ora com sucesso ora com fracasso, fazem de quem as usa passível de interpretação e de julgamento, de ser mal entendido, de cair em contradição. Enfim, somos a todo instante, em maior ou menor intensidade e grau, expostos ao temerário poder de fogo de quem nos vê, nos escuta, nos lê, de reproduzir algo sobre nós que não somos ou que não gostaríamos de ser.
        A relação entre a palavra e seu significado por vezes não é colocada para os outros da mesma maneira que traquinamos na nossa cabeça, ainda em pensamento, antes de esbravejar aos quatro cantos o que acreditamos ser louvável e o que achamos não passar de mais um capricho do homem.
         Comunicar algo não é tão difícil, mas, comunicação como algo a fazer-se entender da mesma maneira que entendemos "são outros quinhentos"...

Ramiro Teixeira.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

"Peito de operário..."

"E nessa guerra de Deus e do diabo
Entre fogo cruzado desertou
Bela Inês, com seu peito de operário
Não me esconde seu ar conservador"

Romance da Bela Inês,  Alceu Valença.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

"Eternizar..."

"Que o verso tem reverso
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar

Que o perto tem distâncias
Que o esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema, solução
E que o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz."

Contrários, Fábio de Melo

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"De cima do telhado..."

Bilhete

"Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..."


Mário Quintana.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"O Projeto Trilhas Potiguares..."

       Trilhas Potiguares é um projeto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em parceria com municípios do estado
      Certa vez um professor me falou que ao longo da vida vamos conhecendo várias pessoas, desde a infância, adolescência, juventude, na fase adulta do ser humano e na sua velhice (ora, ouvi de algumas trilheiros que ser adulto é ser independente pelo menos financeiramente), enfim, e que as amizades mais fortes que ele consolidou, o tal professor, foram as cultivadas na universidade, por serem pessoas com os seus ideais à flor da pele, embora os ideais de alguns sejam diferentes dos ideais dos outros.

    No entanto, o respeito pelas diferenças é mantido à medida em que percebemos os mais variados estilos e modos de vida ao nosso redor, isso nos impulsiona a somar com os outros, a ser mais um componente em um grupo, e não simplesmente impor nossa maneira aos demais.

     Por muitas vezes eu tomava a liberdade de "parar o tempo" e apenas observá-los, não, muito mais que isso, tentar entender o que estava se passando ali bem na minha frente, e nunca chegava a uma resposta satisfatória ou mesmo a uma resposta, só fui enxergar uma possibilidade quando já em casa (ou seja, neste momento em que escrevo) mais uma vez reconheci que não podemos parar o tempo, como desejei por várias vezes, e tentar ver de um anglo melhor para entender aquele amontoado de indivíduos se abraçando e trocando algumas pequenas intimidades sem serem necessariamente próximos de longos anos.

      Como não acredito em receitas a serem estritamente seguidas para as  "cenas da vida", esta nos surpreende a todo instante, por mais que ensaiamos o que vamos dizer e fazer diante de certas ocasiões e pessoas, não conseguiremos manipular a vida, talvez até acertemos alguns "capítulos", mas, muito mais ainda teremos que mudar nossa maneira "de decorar os textos e os gestos". O aprendizado com as pessoas enriquece quando somado ao que já sabemos.

     A observação nos ensina muito, porém, aprendi que para entender melhor aquela situação de trilheiros até então "desconhecidos" entre si era preciso vivê-la de dentro como participante e não apenas de perto como observador, e acredito que foi o que aconteceu:

vivemos a esperança no desfio da saída do Campus
vivemos as opiniões de cada um durante a viagem
vivemos a frustração de uma não atividade
vivemos as dores de quem nos preocupou

vivemos as nossas dificuldades individuais
e as partilhamos com quem estava perto
vivemos o sucesso do grupo
e o levamos a quem estava distante

E o mais importante, com o desejo de reencontro
para levar a quem mais longe estiver!

"sabe de uma coisa seu, vou lhe(s) jogar no meu baú
vivo e mágico, com as coisas boas que tem lá"
(Vanessa da Mata)

Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"...e nos ônibus..."

     Não bastassem as péssimas condições dos transportes públicos da "cidade-noiva do sol" (tudo em minúsculo sim!) já descritas em "Transporte público em Natal: só sabe e sente quem usa", blog de Jeremias Alves, condições que não servem de justificativas para o que se segue, testemunha-se uma série de atitudes denunciadoras do descaso dos mais jovens com aqueles de mais idade.
        Quem não presenciou pessoas ditas com "mais primaveras" cumprirem em pé seu trajeto nos ônibus urbanos quando muitos, mais novos e mais dispostos (pelo menos é o que se espera!), estão sentados encenando e muitas vezes de fato estão num belo sono de pessoa "cansada" ou mesmo na cara-de-pau sem ter coragem, não de oferecer, mas de dar o lugar, ainda que não esteja estampado "PREFERENCIAL"?
        Sem mencionar que muitos não se oferecem nem para segurar um possível material daqueles, mesmo sem terem mais idade, espremidos pelos outros mais "desprivilegiados" ainda por não conseguirem um lugar (uma banco) para apoiar as nádegas, e por sua vez, o corpo. 
    Pelo menos revezassem durante os constantes congestionamentos provocados não mais apenas por uma colisão entre veículos, ou entre veículos e pedestres, mas simplesmente pela quantidade excessiva de veículos nas (estradas não) nas ruas de Natal!
        Um pouco mais ou um muito mais de respeito, ao menos por quem usa tais transportes!

Ramiro Teixeira.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

"Garrafas e rosas..."

"...Bendita lâmina grave que fere a parede e traz
As febres loucas e breves
 
Que mancham o silêncio e o cais
(...)
E buscar a mão do mar
Me arrastar até o mar, procurar o mar
Mesmo que eu mande em garrafas
Mensagens por todo o mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
Com as garrafas de náufragos
E as rosas partindo o ar..."


Corsário, de Joao Bosco.

domingo, 10 de julho de 2011

"O Brasil e o Dia mundial da Lei..."

     O dia instituído para celebrar a Lei em todo o mundo é 10 de julho, naquilo que compete ao Estado, em sua composição moderna, para a manutenção da ordem da sociedade. No entanto, em cada período da história humana, as mais variadas formas de poder e de governo delinearam o andamento dos povos segundo o seu regimento próprio e interno.
     O documento de leis escrito conhecido como o mais antigo é o "Código de Hamurábi", trazendo o próprio nome do rei na antiga Mesopotâmia por volta de 1700 a.C. O Código tinha sua fundamentação na lei do Talião ("olho por olho, dente por dente"), a qual denominava que um não cumpridor da lei sofreria o mesmo dano causado à sua vítima. Ainda assim, um rei culpado por algum delito poderia dispor o seu escravo para sofrer a punição em seu lugar.
      Normas, leis, códigos, regulamentos. Tudo intencionado para regrar um "conglomerado" de gente, dispor a sociedade a ditados a serem cumpridos para melhor convivência entre os homens, seja lá a qual classe ou segmento social pertençam. Estamos vivendo um período de reformulação no código penal brasileiro, sobretudo no que diz respeito à superpopulação-produção carcerária no país.
       Será que são realmente novidades para resolvermos os problemas de raíz ou apenas paliativos para uma sociedade já descrente e, portanto, passiva de tantas medidas provisórias?

Ramiro Teixeira.
     

segunda-feira, 4 de julho de 2011

"Olha a Dengue aê..."

     O surto de Dengue que a população de Natal vem sofrendo ao longo dos últimos anos (desde 1996) parece não ter mais fim diante das dificuldades que se apresentam a cada período de coleta e divulgação dos dados sobre os casos da doença na cidade. Porém, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) tem lá suas "medidas preventivas" nos combate e controle ao mosquito causador do tal desassossego.
     Temos os agentes de edemias na linha de frente contra o Aedes Aegypti. No entanto, os senhores concursados e terceirizados (a categoria dos agentes) deflagraram mais uma greve hoje, 04 de julho, alegando, respectivamente, não estarem recebendo os acordos firmados na última greve, auxílio alimentação, fardamento e férias atrasadas; e salários atrasados dos contratados junto ao Instituto de Tecnologia Capacitação Integração Social (ITCI).

      Segundo o último boletim da SMS, 1º de julho de 2011, o RN registra 15.722 casos de Dengue, sendo 638 só em Natal.
A Secretaria disse que ainda não recebeu nenhum comunicado oficial sobre a greve, portanto não precisa se posicionar sobre o problema.

      Nesse meio-todo-tempo o mosquito nem se preocupa em "anunciar" a dengue aos quatro cantos para que se tomem medidas oficiais.

Ramiro Teixeira.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

"... e tudo mais"

"A fada acaba com minha lira
A gira esgota minha laringe
Esfinge, devora minha pessoa
A toa, a toa, que coisa mais amorosa
A rosa...
Ah, rosa, e o meu projeto de vida?"

Fragmento da música "A Rosa", de Chico Buarque de Holanda e Djavan.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

"ensinamentos de (uma) avó..."

    Texto muito bem pautado extraído do blog do Melqui Fernandes em conversa com sua avó, numa dessas horas nas quais a gente aprende com os mais experimentados a ser mais ouvinte:

Maria, Maria...


    "Estávamos eu e minha avó sentados na calçada, numa dessas conversas despretensiosas, em que mal se percebe uma escola. Falávamos sobre banalidades, coisas do cotidiano, conteúdo vago, desses que escorrem pela boca, frouxamente, como água que segue talhando na pedra da alma o mais fino trato moral.
    Eis que na altura em que debatíamos algo, que os fatos subsequentes justificam meu esquecimento, corrigi-lhe palavra, frase ou expressão. Retrucou de pronto a Maria de nome, com certo deboche caprichoso que faltava as humildes marias do tempo de Jesus. Dirigiu-se a mim de modo quase instantâneo, como se o verbo apenas repousasse no palato esperando a justa oportunidade de ser lançado pela boca: 'Falo errado porque falo com você, se falasse com alguém mais importante falaria certo'.
    Emudeci. O silêncio indicava que nossa conversa ou lição moral havia terminado. E como quem o percebe mais que eu, Maria levanta da cadeira sem demonstrar nenhum ressentimento. Mas pelo contrário, num gesto que misturava altivez e misericórdia ela pergunta, finalizando seu triunfo sobre mim, herege da sabedoria popular: 'Quer um café'?"

quarta-feira, 22 de junho de 2011

"Intensificadores, refúgios e armadilhas..."

     Pensemos nas abstrações apresentadas nas relações mantidas entre as pessoas (e entre pessoas e coisas, por que não?) e estruturadas na língua portuguesa falada no Brasil, proporcionando o aprimoramento da aproximação no cotidiano. Entendendo a língua falada como parte de um campo mais complexo chamado comunicação, o qual também abrange outros meios para a comunicabilidade, como a palavra escrita e os sinais e gestos.

     Porquanto nos apropriamos dos graus, advérbios e intensificadores, para melhor nos expressar. Quando um simples gesto de aplaudir é menos carregado que um ato de euforia, este por sua vez cede espaço para um chamamento como o "viva", sendo este, ainda, menos expressivo que uma ovação, quando pelo entusiasmo apresenta-se a admiração por alguém ou por algo, ou por alguém em algo.

      Ora, um latão, daquele no qual comprávamos margarina e depois era utilizado para fazer um tipo de churrasqueira, o imaginemos vazio e sem furos (antes de fazê-lo instrumento para a socialização nos fins de semana e feriados!), se colocarmos algumas pedras a preencherem seu espaço, ele estará cheio; no entanto, ainda suporta que coloquemos nele areia, ela se encaixa nos espaços deixados pelas pedras, e assim estará mais cheio que antes; porém, nada nos impede de completá-lo com água, e ficará, então, transbordante.

     Uma pessoa pode ser considerada suportável, e à medida que a conhecemos, normal; ao se apresentar uma tal empatia se torna até legal; quando essa identificação se torna um tanto quanto próxima, a pessoa é, então, muito legal; até indispensável ao se estabelecer com ela um certo vínculo de construção, de trocas restritas e mútuas, espaços de se revelar como de fato é e não se enxerga a si mesmo, mas que o outro o faz perceber. O sentido inverso também ocorre, assim como interrupções através de decepções, afinal de contas o processo de humanização é constante, árduo e cheio de implicações.

     Nessas armadilhas, e ao mesmo tempo refúgio na linguagem espontânea do dia a dia, qual dos brasileiros não provou essa aproximação de afetividade, essa maneira de carinhosamente ser chamado de um simplesmente "irmão", nem que seja apenas em gestos?

Ramiro Teixeira.

terça-feira, 14 de junho de 2011

"Comentários para os estudantes..."

     E nessas indas e vindas, com discursos dos mais variados argumentos e defesas de ambas as partes, ora honestos, ora vitimizados; muitos deixam seus comentários sobre um dos mais polêmicos e recentes atos da política natalense, desta vez tocada pelos estudantes, e não poderia deixar de dizer, estudantes não golpistas, ao contrário do que afirmou nossa então prefeita Micarla Araújo de Souza Weber.
     Segue o link do blog do professor Edmilson, do departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

"Pressa, risco e riso..."

"Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção
(...) 
Não quero o que a cabeça pensa eu quero o que a alma deseja
(...)
Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar

(...)
Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente
(...)
Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem
Tem essa pressa de viver
Meu bem, mas quando a vida nos violentar
Pediremos ao bom Deus que nos ajude
Falaremos para a vida: 'Vida, pisa devagar meu coração cuidado é frágil'

(...)
E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza
E arriscar tudo de novo com paixão
Andar caminho errado pela simples alegria de ser
Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo

(...)"

Mais um recorte de uma letra de música de Belchior (Coração Selvagem)!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

"...se não mata, fere..."

     Na última quarta-feira, 01 de junho, houve mais uma passeata dos estudantes da cidade administrada pela então prefeita Micarla Araújo de Sousa Weber.
       A manifestação, ou seja lá qual nome atribuam ao ato de descontentamento com a atuação da gestão política em nossa cidade (se bem que esse descaso não é tão recente assim), ganhou boa repercussão entre os atores políticos mais ativos na sociedade, salvo alguns poucos que souberam do ocorrido pelas mais variadas fontes (televisivas, rádio, internet, amigos ou mesmo que viram a multidão paralisando algumas avenidas da Natal).
    Curiosas são as opiniões de alguns daqueles não participantes da ação, despertando minha reflexão: ao voltar para casa depois da passeata, ouvi uns comentários sobre o acontecido. Ora, um rapaz conversando com um amigo sobre seu trabalho, falando como estava sendo explorado por seus patrão. O tal rapaz é um vendedor, não sei em qual loja, universitário de uma instituição privada.
      No seu relato dizia que a imposição da empresa na qual estava trabalhando era ele vender produtos totalizando R$ 30.000(trinta mil reais) ao fim do mês, ou seja mais de R$ 2.000(dois mil) por dia, pois, contando com suas folgas semanais, ele não labuta todos os dias no mês, e tem que compensar o não-vendido com vendas adicionais nos dias trabalhados, caso contrário seria demitido; já na sua faculdade, relatava professores totalmente apáticos quanto ao ensino em sala de aula. Não entrando no mérito de cada discussão nem na ação valorativa do mercado privado, mas o tal rapaz juntamente com seu amigo chegou a dizer: 

"ainda por cima numa hora dessas o trânsito engarrafado por causa desse povo que não tem o que fazer e vai protestar, como se fosse tirar Micarla do poder".

     Me pergunto, se não for pela conscientização política levada à população, reivindicando por seus direitos, pois se há protesto, subentende-se, algumas medidas gestoras nas políticas(públicas) não estão suficientes nem cumprido com a palavra lançada em campanha eleitoral, qual será o modo pelo qual se chegará a uma equidade política e social? Pois, ao pensar que ficar resmungando e atendendo aos R$ 30.000 ou R$ 60.000 do patrão e suportando o descaso com a educação resolverá tal situação ou pelo menos assegurando o seu "pé-de-meia", creia que haverá outra maneira de você ser mais explorado frente a novas situações individuais erroneamente encaradas como subir na vida após um diploma universitário ou com um salário para pagar a prestação de um carro financiado em 36, 48 ou 50 meses.
      Infelizmente, o sistema político implantado atualmente tirou os principais valores sociais de direitos para a população, deixando-a vendada e a mercer de princípios capitais de exploração, nos quais só nos restaria acatar ordens dos proprietários do mercado e esperar pela próxima eleição.
Muito mais que criticar quem está lutando pela melhoria do sistema político e social da cidade, como se nada pudesse mudar, seria mais salutar refletir sobre como está sendo de fato gerenciada sua cidade.
     E pior, pessoas conhecedoras da luta dos estudantes e universitários também estão deturpando a identidade dos contestadores com predicados deturpadores.
Se não conseguimos tirar o mal gestor do poder, ao menos sua gestão será marcada pela exposição da insatisfação do povo, cada vez mais com oportunidades de serem conscientizados.

Ramiro Teixeira.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

"Impostos e todos felizes para sempre..."

     Nos expliquem os economistas: inflação, impostos, dedução, investimentos.
   Realmente, os governos municipal, estadual e federal, precisam arrecadar tributos para administrarem suas respectivas jurisdições. Localidades muito bem servidas dos investimentos governamentais. Ora, basta boa vontade para enxergarmos a quantidade de beneficíos construídos nas nossas cidades, diga-se de passagem, muito boa vontade.
   Ora, muito embora o Brasil esteja elencado como um dos países mais cobradores de impostos(e acredite, Jesus não virá para mandar "Zaqueu" descer da árvore novamente), não conseguimos ver essa quantidade, muito menos qualidade, de trabalho nas gestões públicas.
     Porém, e essa ressalva é de extrema importância, foi determinado por lei um dia específico(25/05) para os brasileiros comprarem os produtos com preços livres dos impostos. Hummmm, descontos de até 30% no valor habitual, e nós ficamos imensamente felizes por esta colher-de-chá para economizarmos nosso dinheirinho suado.
    Escolhamos, pois, investimentos nas cidades((através de muita, mas muita mesmo, luta política e social), uma dia com produtos mais baratos, porém com 1/4 do vencimento anual(é isso que pagamos de impostos) jogados nos "cofres" públicos sem retorno para a população...

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

"Uma onda (política) em Natal..."

     "Um espectro ronda a Europa", assim começa o Manifesto Comunista de Marx e Engels de 1848, a "ameaça" comunista, a imagem de algo em formação a ponto de causar certas apreensões naqueles a ditarem a ordem até então vigente. 
    Com todas as proporções devidamente guardadas e, ainda mais, não comparando as situações, até porque são tempos e racionalidades com seus contextos e peculiaridade próprias, mas a atual administração da prefeitura da cidade do Natal deveria se preocupar um pouquinho que seja com a "onda" causada por suas medidas, sejam na educação, na saúde, no transporte, no turismo, na (in)segurança, na cultura, ou nas propagandas veiculadas por alguns segmentos da  mídia potiguar, atuações desencadeadoras de fortes críticas e descontentamentos, poderia até dizer, geradoras de inconformismos exaltados.
     Ora, qualquer cenário de desregramento, desordem, não funcionamento, na cidade é atribuído à prefeitura. Pudera, espera-se de quem foi eleito pelo povo nas urnas a responsabilidade de promover direitos(e não apenas cobrar os deveres) adquiridos pela população ao longo de uma história extremamente violenta e desigual politicamente. Porém, não é isso contemplado no dia-a-dia(sabemos também que o problema da má administração não é regalia somente de Natal, nem do atual governo) de um dos destinos mais procurados no Nordeste por casais em lua-de-mel, segundo reportagem de jornal a nível nacional nas últimas semanas.
     Com a tomada de consciência dos natalenses, ainda em minoria, de fato, porém, em crescente quantidade e qualidade, o tal "espectro a rondar Natal" deveria ser levado um pouquinho mais a sério, inclusive pelos que ainda não aderiram a campanha pela cidade!
     A população está mais presente nas reivindicações sociais, indivíduos estão cada vez mais expondo suas teses contestatórias, por exemplo, a professora Amanda Gurgel.

2012 é ano de eleição!

Ramiro Teixeira.

domingo, 15 de maio de 2011

"Intelectualidades em outras épocas..."

Apresentação do livro "O Estado e Revolução", de Vladimir Ilítch Uliânov(Lênin)

     "A presente reedição aproveita um trabalho feito com notável dedicação, talento e probidade intelectual por Aristides Lobo. Ela surge em um momento propício, a pressão operária e o protesto sindical situam à nova luz a questão do espaço político democrático no seio de uma sociedade capitalista relativamente subdesenvolvida e dependente. Esse espaço político nunca fora criado antes, por vias burguesas. Ao contrário, os setores dominantes das classes possuidoras sempre procuraram impedir, por todos os meios, o aparecimento e a consolidação desse espaço político democrático no Brasil, anulando ou esmagando todas as tentativas históricas no sentido de conquistá-lo. Preocupados com o monopólio do poder econômico, cultural e político, esse setores das Classes dominantes impuseram seu próprio padrão de paz social, de estabilidade política e de organização do Estado. Assim, lograram excluir as classes subalternas de uma participação política eficaz e submeteram à dominação burguesa todas as organizações dos trabalhadores. A divulgação de 'O Estado e a Revolução' é extremamente necessária em um momento como esse, no qual o avanço operário colide com as contra pressões vindas tanto das 'ilusões constitucionais', quanto das 'manipulações populistas'. Concebido como arma de luta, o livro poderá desempenhar um papel deveras importante no despertar de condenados ao malogro. A ligeireza com que se confundiu o 'desenvolvimento' com a redenção nacional exige que se instrua os trabalhadores, os líderes sindicais e a juventude contestadoras em textos de reflexão crítica tão aguda sobre as limitações ao sufrágio universal, as debilidades intrínsecas da democracia constitucional e representativa, o caráter opressivo e repressivo da República democrática, a necessidade da revolução violenta para a instauração de uma democracia da maioria etc. Em particular, cumpre que se denuncie, sob todas as formas e com a força possível, a "fé supersticiosa no Estado", algo a que Lênin se propõe de ponta a ponta, seguindo a trilha dos fundadores do socialismo revolucionário. A leitura é tanto melhor quanto ela contempla também como e porque o proletariado deve primeiro conquistar o Estado burguês para, em seguida, transformá-lo e destruí-lo. Se não existissem outras razões, esta bastaria para dar a 'O Estado e Revolução' um lugar incomum em nossa estante dos clássicos do socialismo."

São Paulo, 6 de novembro de 1978-Florestan Fernandes.

domingo, 1 de maio de 2011

"Datas comemorativas...?"

     Dia do trabalho(ou do trabalhador).
   Eu não sou muito condizente com datas fixadas para a comemoração, prestígio ou relembrança de algo marcante ao longo da história de um povo. Sempre aquele velho argumento: dia das mães é todo dia do ano, dos pais também, mas é preciso representá-los; enfim, assimila-se esta verdade e é criado um dia específico, servindo como uma data ícone em celebração de um evento histórico.
     Decerto, um episódio toma vários significados no processo de vida de uma sociedade, e sua atribuição depende em grande parte do que é vivenciado no momento atual num dado país, cidade etc. Ora, ultimamente, e diria ainda, geralmente, a configuração do regimento de um povo é dado de maneira quase silenciosa e imperceptível por quem o governa.
    Em boa parte do território brasileiro, o dia símbolo da luta por direitos trabalhistas é vivido da seguinte maneira: é feriado; há aumento do salário mínimo; alguns patrões sorteiam certos prêmios entre seus funcionários, fazem até festa para seus "colaboradores". Assim, imaginam tais proprietários estarem contribuindo com seus empregados e dando-lhes melhores condições de produção, esta logicamente para uma maior lucratividade de sua empresa, lucratividade pessoal.
   Somos educados para atender o mercado de trabalho como peças produtivas(daqui seguem os inúmeros graus de capacidade) para quem detem os meios de produção. A consciência é treinada para uma lógica de capital atendendo não a nós mesmos, mas a um sistema de reprodução e reposição do poder dos "vencedores na vida mercantil". 
     Enquanto o salário mínimo aumenta em média R$ 30,00 por ano, o sistema bancário, as empresas financiadoras, os próprios políticos, e tantos outros segmentos  profissionais(ah, profissionais mesmo, hein!) têm sua "retribuição pecuniária do serviço exeutado"(nota do dicionário) com uma margem exorbita. Cada imóvel, cada carro, cada moto adquirida através de um financiamento idealiza uma melhoria de vida por parte de quem comprou. Ora, o dinheiro pago nesses casos daria para adquirir pelo menos outro bem  de igual condição. Essa moeda excedente vai para o bolso de quem já demanda lucro.
     Sinceramente, neste dia, pela presente situação econômica da sociedade em geral, não tem algo a ser comemorado; muito vais válido é reconsiderar as verdadeiras reivindicações e necessidades de um Brasil encoberto!

Ramiro Teixeira.

sábado, 30 de abril de 2011

"Incômodo..."

"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.

É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. 

Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar."

Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."
(Autoria atribuída a Luís Fernando Veríssimo, mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da Silva, em sua coluna do dia 31 de março de 2005 do jornal O Globo)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Os inhos, as inhas..."

     Sem análises mais sofisticadas do tipo investigativo ou mesmo comparativo entre as diversas sociedades e culturas com as quais temos pelo menos um mínimo de contato, seja por qualquer meio que isto venha a acontecer, percebemos algumas características da nossa tão variabilidade expressão cultural brasileira. Para isso, recorro a um dos livros bastante lidos por quem se aventura no estudo da formação da identidade do Brasil, "Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda"(ora, não pretendo fazer nenhum comentário com caráter mais preciso de seu livro, mas tomar apenas um exemplo de seu escrito, até por que sua visão também é mais uma versão da cultura brasileira, e isto exigiria e renderia um outro espaço).

"No domínio da linguistíca(...) nosso pendor acentuado para o emprego dos diminutivos. A terminação 'inho', aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo."(página 148, 26ª edição).

    Comumente nos relacionamos por Joãozinho, Zezinho, Chico, isso nos nomes mais comuns entre nós. Para os tipos não encontrados com tanta frequência, logo é renomeado por um apelido, como Iasnara, tornando-se simplesmente 'nara', Katiússia vira 'utinha', Keruska, 'keka'. Lembrando, ainda, dos apelidos ligados a alguma característica física ou de outra natureza, como lembrança de infância, profissão, ou gafe, assim temos 'cabeção', 'olívia palito', 'chan', 'voinha', 'by-chan', entre muitos outros lembrados não por mim neste momento.
     A irreverência do brasileiro assim é reconhecida por muitas lugares, porém, a convivência diária, cotidiana, nos entrelaça de tal maneira que por vezes nem é lembrado instantaneamente o nome de batismo de um ou outro amigo...vai dizer que isto é indício de falta de elegância? falta de etiqueta? vai dizer que isto é chique, é brega?
    Arrisquem seus palpites interpretativos, suas teses acadêmicas, suas opiniões nos botecos da vida ou nas rodas de conversas nas praças dos "shoping centers", na pinga-com-umbu nas cidades do interior, em qualquer embiente possível e provável o qual propocie um "bater-papo e jogar-conversa-fora".

Ramiro Teixeira.

sábado, 23 de abril de 2011

"Duas óticas..."

        Semana Santa e duas maneiras de vivê-la.
     De início, seu propósito é reviver o calvário de Jesus Cristo desde a instituição da Eucaristia, no lava pés, na quinta-feira santa; passando pela sexta-feira da paixão, no dia de sua crucificação; pelo sábado de aleluia, com a vigília e o momento de escuridão tanto espiritual quanto de expectativa; e, por fim, o domingo de Ressureição, quando o Cristo vence a batalha contra a morte.
     Depois de 2000 anos esta narrativa é reinterpretada com uma variedade cultural, seja pelos cristãos mais fervorosos ou pelos mais desinteressados; seja pelos cidadãos não-cristãos. Enfim, um fato histórico para muitos, para outros não, mas o qual tem sua reprodução em nossa sociedade de tal maneira que muito se confunde em meio ao cotidiano já experimentado de feriados destinados à suspensão de atividades reguladas(trabalho, estudos etc.), mediante uma origem religiosa ou civil. Sendo de uma ou de outra natureza, o que se tem é o aproveitamento desses feriados por ambos segmentos sociais.
    Enquanto uns comemoram mais alguns dias de interrupção de suas atividades com o confraternizar entre amigos(tendo em vista a mercadologização capitalista vendo mais uma grande oportunidade de vender seus "ovos de Páscoa" e de explorar a força de trabalho de muitos dos seus empregados, estes não têm descanso); outros não vêem motivo algum para essa "folia", encaram estes dias como um período de total contrição, reflexão(iniciada logo após o Carnaval se estendendo durante a quaresma) sobre tudo aquilo vivido nos momentos de distanciamento religioso, e a possibilidade de se retratar com o Salvador.
     De uma forma ou de outra, "o feriadão" aí está, cada qual utiliza o termo apropriado que lhe aprouver.

Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Herói (nacional)..."

Herói nacional. Quem?
       Relembrando um pouco da história brasileira, ainda no período colonial, no qual tivemos várias revoluções e outras tentativas entre as quais a Inconfidência Mineira, em 1789, no período do ciclo do ouro, onde hoje é o território de Minas Gerais. Portugal, então metrópole, impunha abusivas leis e regras sobre a colônia brasileira, medidas desencadeadoras de sentimentos de opressão em muitos brasileiros.
      Ora, o resultado mais conhecido desse levante no país ficou a cargo da morte do Tiradentes, figura notadamente popular quando o Brasil em 1889, cem anos depois da Inconfidência, proclamou sua "independência" e precisava instaurar retratos nacionais para a população, simbolizou-se, assim, o esboço de Joaquim José da Silva Xavier, esquartejado e tendo suas partes físicas distribuídas pelas ruas, um homem de origem humilde lutara pelas causas nacionais e morrera defendendo o país, um herói brasileiro. Projeto para consolidar uma identidade do povo no Brasil.
        Como as autoridades são eficientes quando querem...
       Hoje comemora-se tal data e não se vê muita empolgação na nação, afinal de contas isso tudo já passou, o objetivo já foi alcançado, pouco é divulgado sobre a História do Brasil. Seguimos assim, conhecendo apenas aquilo interessante para quem detem poder o político no país.
        É mais um feriado...
       Ah, amanhã, dia 22 de abril, comemora-se o "descobrimento do Brasil"!

Ramiro Teixeira.

sábado, 16 de abril de 2011

"Identidade nas descrições..."

     Segundo tantas teorias na área das ciências humanas e sociais procurando responder a questionamentos referentes à identidade individual do ser humano, temos uma gama de ideias sobre aquilo pensado pelo homem sobre ele mesmo. Um desses conceitos está presente em um conjunto de textos chamado "Meditações", do filósofo René Descartes, no qual o pensador trata da "distinção real entre a alma e corpo do homem"; outro conceito, ainda, está posto nos estudos desenvolvidos pela Antropologia, com Radcliffe-Brow, ao lançar a ideia de que um ser humano vivendo em sociedade é indivíduo, um ser fisio-biológico; e, também, uma pessoa, a saber, uma complexidade vivida nos relacionamentos sociais, adquiridos durante toda sua vida.
      Ora, nestes últimos 15 ou 20 anos, a Internet vem proporcionando um tipo de ligação virtual nos sites de relacionamento, entre muitos dos quais conhecemos. Uma das primeiras informações propostas ou exigidas no cadastro nessas páginas da rede mundial é a descrição do "Quem sou eu", no qual as pessoas expõem aquilo de interessante sobre elas: atividades as quais realizam, trabalhos, estudos, áreas de interesses; preferências musicais, literárias; relações mantidas de amizade e amorosas; perspectivas. Enfim, uma série de enumerações da sua vida cotidiana, muito embora, tratando-se de um campo virtual, possa-se encontrar muitas informações não coerentes com a realidade do indivíduo, mas um suposto modelo de ideal o qual o cidadão gostaria de manter como verdade.
      Bem, por mais influente, imediata, necessária, eficaz, que parece a utilização da Internet como suporte para relações de todos os tipos entre as pessoas, não podemos nos restringir a essa novíssima tecnologia virtual, e cada vez mais modernizada, para construção da nossa identidade(claramente também não nos é saudável, a todo instante, prendermo-nos na nostalgia do passado).
      Adaptáveis como somos, os seres humanos, construímos nossa vida social a partir de interações interpessoais, no entanto, e não negando a contribuição das redes sociais muito menos fechando os olhos para as suas possíveis implicações negativas, minha aposta e crença se moldam na perspectiva das ligações de uns com os outros como ação, e não apenas como possibilidades virtuais. E aqui me recordo de uma propaganda de um produto cosmético: "toda rotina tem a sua beleza". Cabe-nos reecontrar o prazer da convivência real entre as pessoas.

Ramiro Teixeira.

sábado, 9 de abril de 2011

"Prá reunir..."

Uma canção é pra isso

 "Uma canção é prá acender o Sol
No coração da pessoa
Prá fazer brilhar como um farol
O som depois que ressoa...


Uma canção é prá trazer calor
Deixar a vida mais quente
Prá puxar o fio da paixão
No labirinto da gente...


Uma canção é prá fazer o Sol
Nascer de novo
Prá cantar o que nos encantou
Na companhia do povo...


Prá consertar
Prá defender a cidadela
Prá celebrar
Prá reunir bairro e favela...


Prá clarear a escuridão
E o mundo encerra
Prá balançar
Prá reunir o céu e a terra..."


Samuel Rosa e Chico Amaral.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

"Dia da verdade..."

     Primeiro de abril, o chamado "dia da mentira". Considere-se o fato de muitas práticas sociais irem perdendo seu espaço ao longo da história da humanidade. Ora, o movimento da sociedade, apesar de ser lento, tende sempre a mudanças. E quantas tradições, por assim dizer, não nos trazem boas recordações, não nos fazem falta? Quem nunca pregou uma mentira nesse tão risonho dia? E mais, quem nunca foi vítima de uma brincadeira enganosa?
Não somente as crianças entravam na "celebração", muitos adultos também se faziam parte dessa alegoria. Seja qual fosse o nível da troça: "ei, caiu um objeto seu", "tem alguém te chamando acolá".
     Hoje não sei como são vividos esses tipos de dias comemorativos, parece-me que está tudo um pouco mais ranzinza, é uma tal falta de tempo para tudo, menos para as coisas sérias, isso não, trabalho em primeiro lugar de tudo, não há espaços para um...improviso, tudo precisa ler levado à risca, ou então perde-se dinheiro(a cifra ganhou uma tal importância a ponto de nos cegar para o valor da própria relação afetiva entre as pessoas!), e o capital se traveste de sentimento, e paga por ele, e também o vende.
      Ah, mas este tão "nobre" sentimento indo e vindo é isso mesmo, efêmero, irreal, esvai-se, porque o valor a ele dado, por ele cobrado não tem base terna, apenas mesquinha.
     Acho que não faz tão mal assim celebrar algo entre amigos, recusar um outro compromisso e ficar com os de nossa afeição, sem o risco do vício de ter o que pode ser visto(moeda), mas não pode comprar o invisível(amizade, até mesmo de poder contar uma mentira, nem que seja no primeiro de abril!).

Ramiro Teixeira.

sábado, 19 de março de 2011

"São José cultural...!"

     "São" tem pelo menos duas utilizações. Uma é como verbo de ligação entre um sujeito e um predicado, como por exemplo "as orações são eficazes". A outra é para abreviar a palavra santo, como "hoje é dia de São José!", de fato.
Bem, o dia de São José, na tradição católica, é celebrado hoje, 19/03, e como tal é marco determinante de um período de fartura(ou não!). É um dos santos com mais popularidade no catolicismo. Pudera, é proclamado como padroeiro das famílias, pela fidelidade à Maria, mãe de Jesus; padroeiro dos trabalhadores, por ter ensinado seu ofício de carpinteiro ao Filho de Deus; protetor da Igreja Católica Romana, por ter protegido Maria e o Cristo do rei Herodes, no recenseamento.
      Para muitos, quando chove no dia 19 de Março, é sinal de uma boa colheita no período de São João e São Pedro. Por isso é um dia mais que esperado no tocante às expectativas das famílias trabalhadoras no campo, de onde tiram seu sustento.
     Por mais que alguns por aí liguem o fato de chover quase que regularmente nesse dia a dados da Astronomia, da posição da Terra em relação ao Sol, a equinócios e solstícios(explicações técnicas, nem menos nem mais válidas!), é a força adquirida pela fé religiosa desse povo que marca a celebração e esperança no dia 19.
     É a festa cultural construída dentro de moldes de uma sociedade totalmente dependente do tempo, da estação e da época, para alimentarem seu futuro. Contudo, essa abordagem estritamente cultural não pode limitar as ações dos indivíduos nem fazê-los impotentes quanto à reconstrução do seu cotidiano, mesmo por que ele também é considerado exemplo de perseverança.

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"Convenção..."

     Período de início de alguma atividade(seja acadêmica, profissional, de entretenimento ou de outra qualidade) sempre traz renovação(quanto às pessoas novatas) e reafirmação(ao serem transmitidos os acordos firmados ora por leis oficiais ora por usos e costumes-o direito consuetudinário). Dessa maneira vão se delineando o círculo pelo qual nossas vidas transitam. Ora, os fatos, em geral, são os mesmos sejam dentro da política, economia, educação, religião ou família, variando um ou outro caso ou a forma como as pessoas reagem a suas possibilidades. Não é a totalidade das pessoas que tratam com idêntico zelo o cotidiano de seu meio.
     No entanto, há uma conformidade entre os participantes de uma mesma esfera, além daquilo presente na superfície diária. São os modelos com os quais vai nos educando a sociedade, pontuados na observação dos primeiros a realizarem uma simples atividade, em seguida sua repetição a torna um hábito, coletivo, costume. São construídas regras pelas quais se tornam íntimas, ao mesmo tempo que alheias, as ações dos indivíduos. Tal intimidade porque identificamos nelas as convenções sociais pelas quais somos direcionados a agir. E como tudo em nossa vida esse tratado social nos deixa como legado um propósito fixo de meta a ser alcançada: convívio comum dentro dos padrões já estabelecidos. Porém, também produz uma certa margem de transgressão. Transgressores são vistos como "ameaça" à ordem, nunca como acréscimo ao já conhecido e assimilado, são postos à margem.
      A conveniência para as partes envolvidas num processo de relação mútua, mas indiferente para outras, tem desdobramentos que mascaram a realidade de fato e demonstram a fragilidade com a qual a essência do homem é tratada(com mesquinhez).

Ramiro Teixeira.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

"O nascer..."

                                                 O poeta e a lua
Vinícius de Morais

"Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esfera nitentes
Tremeluzem pelos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de luxúria.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua...
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes."

domingo, 9 de janeiro de 2011

"Maestria..."

     Sem esquecer da beleza das outras artes intinerantes a nos surpreenderem ao longo do caminho, tenho, como tantos outros, um grande apreço pela música, pela musicalidade. Desde a composição da letra(que não é algo tão naturalmente realizado), passando pela disposição dos acordes, até a combinação entre letra e melodia. Temos, então, uma das maneiras mais eficazes de se propagar uma ideia. Ora, todo tipo de propaganda se utiliza de música para anunciar. Mas, partindo para a prática musical orquestrada, temos a figura do maestro como responsável pela harmoniosa apresentação artística. O mestre coordenador das singularidades a constituir a pluralidade melódica.
     Músicos apurados que dominam sua arte individual, o som contagiante de sua especialidade. Todos a comporem a harmonia de uma orquestra sinfônica ou mesmo grupos menores(em quantidade) como a música de câmara, quartetos ou quintetos. No entanto, é indispensável a presença do regente. Conhecer todos os sons realizados pelos seus músicos, ditar o tempo correto para cada um executar sua tarefa, e ainda configurá-los a ponto de se apresentarem coesos, imprimindo dinamismo, andamento e desenvolvimento às partituras, aos violões, violinos, trompetes, trombones, flautas, saxofones e tantos outros. O resultado dessa regência, aos que tiverem oportunidade de apreciar uma orquestra, é admirável e deslumbrante.
     Comparo a orquestra com o nosso cotidiano, cada parte nos apresentada(as situações!) tem sua sonoridade, seu timbre, e ressoa por vezes com  afinação, outras nem tanto. Umas são impactantes e ensurdecedoras, outras discretas, quase imperceptíveis, mas todas com sua particularidade de ensinamentos, dependendo da maestria de cada pessoa para obter o melhor ofertado pelas disposições. Tarefa que exige esforço e recomeços a todo instante. E, se bem regida, nos proporciona um dos mais confortantes sons: a poesia da vida, a inspiração do belo, das ideias!

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Ritmo e cadência..."

      Nos últimos suspiros do ano, o qual deixamos para trás (2010), pude observar certas semelhanças entre as frases pronunciadas por tantas pessoas, as quais se dão ao luxo de serem ouvidas (posso afirmar, também com toda certeza: as silenciadas e silenciosas também têm algo a nos dizer e ensinar!).
        Expressões do tipo "rapaz, o ano passou muito rápido", "2011 será mais rápido ainda", entre outras. Porém, o mais surpreendente para mim foi a singularidade com a qual as pessoas projetavam seu ano vindouro. Entre pedidos para alheios e para si mesmos estavam os de sempre: saúde, paz, coragem, felicidade, amor e amizade; e como norte para ponto de partida da mudança estão a segunda-feira, início de mês e as datas comemorativas, principalmente quando forem feriados.
      Dessa forma, podemos comportar (se assim pudermos conjugar esse verbo, não pondo limites ao dia-a-dia, mas responsabilizando a nós mesmos pelo transcorrer da vida) os acontecimentos nos oferecidos ao longo do nosso caminho como genericamente os mesmos, embora sejamos surpreendidos a todo instante. A surpresa tomadora do nosso aconchego é gerada não pelo fato em si, mas pelas pessoas ao nosso redor, pelo caráter de qualidades atribuídas às peças da vida.
         É a maneira como encaramos o cotidiano que ritma os dias. 
     Experimentos tomar uma letra musical. Músicos distintos farão melodias diferentes com a mesma letra, uns modificarão uma ou outra palavra, suprimirão, acrescentarão. É a sua subjetividade dando vida a letras postas e presenteadas (como uma matéria-prima para ser transformada em obra-irmã!).
Ritmo é a relação dos fatos posta em repetição de forma a cadenciá-los em agradáveis momentos pessoais e coletivos.
      Assim, ritmo e cadência são, juntos, a melodia impressa por nós em cada letra nos apresentada (os acontecimentos!), são o equilíbrio a objetivar a harmonia do ser humano em seu tratado de desenvolvimento intelectual e social. A tradição cristã nos diz que Jesus Cristo, aos 12 anos, em festa de comemoração do povo judeu, foi encontrado por sua mãe, Maria, no templo de Jerusalém com os sacerdotes. Ao fim desta passagem, a Bíblia diz: "e Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça". Ele tinha o equilíbrio de seus dons. O mesmo acontecimento para todo o povo judeu teve singularidade para um único, o menino Jesus, ele utilizou-se de sua subjetividade para dar melodia ao que lhe foi proporcionado, a visita ao templo de Jerusalém.
     Também nós podemos cadenciar, compassar os movimentos, ritmá-los, torná-los agradáveis, acordá-los com a nossa realidade. Teremos árduo trabalho, é a supressão de algo, é o acréscimo para o crescimento, a modificação dia após dia, retalhos, reerguimento, construção, equilíbrio, cadência!
       Podemos tomar a nosso favor o estranho, o inesperado. Transformá-los em dádiva!

Ramiro Teixeira.