sábado, 30 de abril de 2011

"Incômodo..."

"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.

É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. 

Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar."

Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."
(Autoria atribuída a Luís Fernando Veríssimo, mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da Silva, em sua coluna do dia 31 de março de 2005 do jornal O Globo)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Os inhos, as inhas..."

     Sem análises mais sofisticadas do tipo investigativo ou mesmo comparativo entre as diversas sociedades e culturas com as quais temos pelo menos um mínimo de contato, seja por qualquer meio que isto venha a acontecer, percebemos algumas características da nossa tão variabilidade expressão cultural brasileira. Para isso, recorro a um dos livros bastante lidos por quem se aventura no estudo da formação da identidade do Brasil, "Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda"(ora, não pretendo fazer nenhum comentário com caráter mais preciso de seu livro, mas tomar apenas um exemplo de seu escrito, até por que sua visão também é mais uma versão da cultura brasileira, e isto exigiria e renderia um outro espaço).

"No domínio da linguistíca(...) nosso pendor acentuado para o emprego dos diminutivos. A terminação 'inho', aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo."(página 148, 26ª edição).

    Comumente nos relacionamos por Joãozinho, Zezinho, Chico, isso nos nomes mais comuns entre nós. Para os tipos não encontrados com tanta frequência, logo é renomeado por um apelido, como Iasnara, tornando-se simplesmente 'nara', Katiússia vira 'utinha', Keruska, 'keka'. Lembrando, ainda, dos apelidos ligados a alguma característica física ou de outra natureza, como lembrança de infância, profissão, ou gafe, assim temos 'cabeção', 'olívia palito', 'chan', 'voinha', 'by-chan', entre muitos outros lembrados não por mim neste momento.
     A irreverência do brasileiro assim é reconhecida por muitas lugares, porém, a convivência diária, cotidiana, nos entrelaça de tal maneira que por vezes nem é lembrado instantaneamente o nome de batismo de um ou outro amigo...vai dizer que isto é indício de falta de elegância? falta de etiqueta? vai dizer que isto é chique, é brega?
    Arrisquem seus palpites interpretativos, suas teses acadêmicas, suas opiniões nos botecos da vida ou nas rodas de conversas nas praças dos "shoping centers", na pinga-com-umbu nas cidades do interior, em qualquer embiente possível e provável o qual propocie um "bater-papo e jogar-conversa-fora".

Ramiro Teixeira.

sábado, 23 de abril de 2011

"Duas óticas..."

        Semana Santa e duas maneiras de vivê-la.
     De início, seu propósito é reviver o calvário de Jesus Cristo desde a instituição da Eucaristia, no lava pés, na quinta-feira santa; passando pela sexta-feira da paixão, no dia de sua crucificação; pelo sábado de aleluia, com a vigília e o momento de escuridão tanto espiritual quanto de expectativa; e, por fim, o domingo de Ressureição, quando o Cristo vence a batalha contra a morte.
     Depois de 2000 anos esta narrativa é reinterpretada com uma variedade cultural, seja pelos cristãos mais fervorosos ou pelos mais desinteressados; seja pelos cidadãos não-cristãos. Enfim, um fato histórico para muitos, para outros não, mas o qual tem sua reprodução em nossa sociedade de tal maneira que muito se confunde em meio ao cotidiano já experimentado de feriados destinados à suspensão de atividades reguladas(trabalho, estudos etc.), mediante uma origem religiosa ou civil. Sendo de uma ou de outra natureza, o que se tem é o aproveitamento desses feriados por ambos segmentos sociais.
    Enquanto uns comemoram mais alguns dias de interrupção de suas atividades com o confraternizar entre amigos(tendo em vista a mercadologização capitalista vendo mais uma grande oportunidade de vender seus "ovos de Páscoa" e de explorar a força de trabalho de muitos dos seus empregados, estes não têm descanso); outros não vêem motivo algum para essa "folia", encaram estes dias como um período de total contrição, reflexão(iniciada logo após o Carnaval se estendendo durante a quaresma) sobre tudo aquilo vivido nos momentos de distanciamento religioso, e a possibilidade de se retratar com o Salvador.
     De uma forma ou de outra, "o feriadão" aí está, cada qual utiliza o termo apropriado que lhe aprouver.

Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Herói (nacional)..."

Herói nacional. Quem?
       Relembrando um pouco da história brasileira, ainda no período colonial, no qual tivemos várias revoluções e outras tentativas entre as quais a Inconfidência Mineira, em 1789, no período do ciclo do ouro, onde hoje é o território de Minas Gerais. Portugal, então metrópole, impunha abusivas leis e regras sobre a colônia brasileira, medidas desencadeadoras de sentimentos de opressão em muitos brasileiros.
      Ora, o resultado mais conhecido desse levante no país ficou a cargo da morte do Tiradentes, figura notadamente popular quando o Brasil em 1889, cem anos depois da Inconfidência, proclamou sua "independência" e precisava instaurar retratos nacionais para a população, simbolizou-se, assim, o esboço de Joaquim José da Silva Xavier, esquartejado e tendo suas partes físicas distribuídas pelas ruas, um homem de origem humilde lutara pelas causas nacionais e morrera defendendo o país, um herói brasileiro. Projeto para consolidar uma identidade do povo no Brasil.
        Como as autoridades são eficientes quando querem...
       Hoje comemora-se tal data e não se vê muita empolgação na nação, afinal de contas isso tudo já passou, o objetivo já foi alcançado, pouco é divulgado sobre a História do Brasil. Seguimos assim, conhecendo apenas aquilo interessante para quem detem poder o político no país.
        É mais um feriado...
       Ah, amanhã, dia 22 de abril, comemora-se o "descobrimento do Brasil"!

Ramiro Teixeira.

sábado, 16 de abril de 2011

"Identidade nas descrições..."

     Segundo tantas teorias na área das ciências humanas e sociais procurando responder a questionamentos referentes à identidade individual do ser humano, temos uma gama de ideias sobre aquilo pensado pelo homem sobre ele mesmo. Um desses conceitos está presente em um conjunto de textos chamado "Meditações", do filósofo René Descartes, no qual o pensador trata da "distinção real entre a alma e corpo do homem"; outro conceito, ainda, está posto nos estudos desenvolvidos pela Antropologia, com Radcliffe-Brow, ao lançar a ideia de que um ser humano vivendo em sociedade é indivíduo, um ser fisio-biológico; e, também, uma pessoa, a saber, uma complexidade vivida nos relacionamentos sociais, adquiridos durante toda sua vida.
      Ora, nestes últimos 15 ou 20 anos, a Internet vem proporcionando um tipo de ligação virtual nos sites de relacionamento, entre muitos dos quais conhecemos. Uma das primeiras informações propostas ou exigidas no cadastro nessas páginas da rede mundial é a descrição do "Quem sou eu", no qual as pessoas expõem aquilo de interessante sobre elas: atividades as quais realizam, trabalhos, estudos, áreas de interesses; preferências musicais, literárias; relações mantidas de amizade e amorosas; perspectivas. Enfim, uma série de enumerações da sua vida cotidiana, muito embora, tratando-se de um campo virtual, possa-se encontrar muitas informações não coerentes com a realidade do indivíduo, mas um suposto modelo de ideal o qual o cidadão gostaria de manter como verdade.
      Bem, por mais influente, imediata, necessária, eficaz, que parece a utilização da Internet como suporte para relações de todos os tipos entre as pessoas, não podemos nos restringir a essa novíssima tecnologia virtual, e cada vez mais modernizada, para construção da nossa identidade(claramente também não nos é saudável, a todo instante, prendermo-nos na nostalgia do passado).
      Adaptáveis como somos, os seres humanos, construímos nossa vida social a partir de interações interpessoais, no entanto, e não negando a contribuição das redes sociais muito menos fechando os olhos para as suas possíveis implicações negativas, minha aposta e crença se moldam na perspectiva das ligações de uns com os outros como ação, e não apenas como possibilidades virtuais. E aqui me recordo de uma propaganda de um produto cosmético: "toda rotina tem a sua beleza". Cabe-nos reecontrar o prazer da convivência real entre as pessoas.

Ramiro Teixeira.

sábado, 9 de abril de 2011

"Prá reunir..."

Uma canção é pra isso

 "Uma canção é prá acender o Sol
No coração da pessoa
Prá fazer brilhar como um farol
O som depois que ressoa...


Uma canção é prá trazer calor
Deixar a vida mais quente
Prá puxar o fio da paixão
No labirinto da gente...


Uma canção é prá fazer o Sol
Nascer de novo
Prá cantar o que nos encantou
Na companhia do povo...


Prá consertar
Prá defender a cidadela
Prá celebrar
Prá reunir bairro e favela...


Prá clarear a escuridão
E o mundo encerra
Prá balançar
Prá reunir o céu e a terra..."


Samuel Rosa e Chico Amaral.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

"Dia da verdade..."

     Primeiro de abril, o chamado "dia da mentira". Considere-se o fato de muitas práticas sociais irem perdendo seu espaço ao longo da história da humanidade. Ora, o movimento da sociedade, apesar de ser lento, tende sempre a mudanças. E quantas tradições, por assim dizer, não nos trazem boas recordações, não nos fazem falta? Quem nunca pregou uma mentira nesse tão risonho dia? E mais, quem nunca foi vítima de uma brincadeira enganosa?
Não somente as crianças entravam na "celebração", muitos adultos também se faziam parte dessa alegoria. Seja qual fosse o nível da troça: "ei, caiu um objeto seu", "tem alguém te chamando acolá".
     Hoje não sei como são vividos esses tipos de dias comemorativos, parece-me que está tudo um pouco mais ranzinza, é uma tal falta de tempo para tudo, menos para as coisas sérias, isso não, trabalho em primeiro lugar de tudo, não há espaços para um...improviso, tudo precisa ler levado à risca, ou então perde-se dinheiro(a cifra ganhou uma tal importância a ponto de nos cegar para o valor da própria relação afetiva entre as pessoas!), e o capital se traveste de sentimento, e paga por ele, e também o vende.
      Ah, mas este tão "nobre" sentimento indo e vindo é isso mesmo, efêmero, irreal, esvai-se, porque o valor a ele dado, por ele cobrado não tem base terna, apenas mesquinha.
     Acho que não faz tão mal assim celebrar algo entre amigos, recusar um outro compromisso e ficar com os de nossa afeição, sem o risco do vício de ter o que pode ser visto(moeda), mas não pode comprar o invisível(amizade, até mesmo de poder contar uma mentira, nem que seja no primeiro de abril!).

Ramiro Teixeira.