sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

"O nascer..."

                                                 O poeta e a lua
Vinícius de Morais

"Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esfera nitentes
Tremeluzem pelos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de luxúria.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua...
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes."

domingo, 9 de janeiro de 2011

"Maestria..."

     Sem esquecer da beleza das outras artes intinerantes a nos surpreenderem ao longo do caminho, tenho, como tantos outros, um grande apreço pela música, pela musicalidade. Desde a composição da letra(que não é algo tão naturalmente realizado), passando pela disposição dos acordes, até a combinação entre letra e melodia. Temos, então, uma das maneiras mais eficazes de se propagar uma ideia. Ora, todo tipo de propaganda se utiliza de música para anunciar. Mas, partindo para a prática musical orquestrada, temos a figura do maestro como responsável pela harmoniosa apresentação artística. O mestre coordenador das singularidades a constituir a pluralidade melódica.
     Músicos apurados que dominam sua arte individual, o som contagiante de sua especialidade. Todos a comporem a harmonia de uma orquestra sinfônica ou mesmo grupos menores(em quantidade) como a música de câmara, quartetos ou quintetos. No entanto, é indispensável a presença do regente. Conhecer todos os sons realizados pelos seus músicos, ditar o tempo correto para cada um executar sua tarefa, e ainda configurá-los a ponto de se apresentarem coesos, imprimindo dinamismo, andamento e desenvolvimento às partituras, aos violões, violinos, trompetes, trombones, flautas, saxofones e tantos outros. O resultado dessa regência, aos que tiverem oportunidade de apreciar uma orquestra, é admirável e deslumbrante.
     Comparo a orquestra com o nosso cotidiano, cada parte nos apresentada(as situações!) tem sua sonoridade, seu timbre, e ressoa por vezes com  afinação, outras nem tanto. Umas são impactantes e ensurdecedoras, outras discretas, quase imperceptíveis, mas todas com sua particularidade de ensinamentos, dependendo da maestria de cada pessoa para obter o melhor ofertado pelas disposições. Tarefa que exige esforço e recomeços a todo instante. E, se bem regida, nos proporciona um dos mais confortantes sons: a poesia da vida, a inspiração do belo, das ideias!

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"Ritmo e cadência..."

      Nos últimos suspiros do ano, o qual deixamos para trás (2010), pude observar certas semelhanças entre as frases pronunciadas por tantas pessoas, as quais se dão ao luxo de serem ouvidas (posso afirmar, também com toda certeza: as silenciadas e silenciosas também têm algo a nos dizer e ensinar!).
        Expressões do tipo "rapaz, o ano passou muito rápido", "2011 será mais rápido ainda", entre outras. Porém, o mais surpreendente para mim foi a singularidade com a qual as pessoas projetavam seu ano vindouro. Entre pedidos para alheios e para si mesmos estavam os de sempre: saúde, paz, coragem, felicidade, amor e amizade; e como norte para ponto de partida da mudança estão a segunda-feira, início de mês e as datas comemorativas, principalmente quando forem feriados.
      Dessa forma, podemos comportar (se assim pudermos conjugar esse verbo, não pondo limites ao dia-a-dia, mas responsabilizando a nós mesmos pelo transcorrer da vida) os acontecimentos nos oferecidos ao longo do nosso caminho como genericamente os mesmos, embora sejamos surpreendidos a todo instante. A surpresa tomadora do nosso aconchego é gerada não pelo fato em si, mas pelas pessoas ao nosso redor, pelo caráter de qualidades atribuídas às peças da vida.
         É a maneira como encaramos o cotidiano que ritma os dias. 
     Experimentos tomar uma letra musical. Músicos distintos farão melodias diferentes com a mesma letra, uns modificarão uma ou outra palavra, suprimirão, acrescentarão. É a sua subjetividade dando vida a letras postas e presenteadas (como uma matéria-prima para ser transformada em obra-irmã!).
Ritmo é a relação dos fatos posta em repetição de forma a cadenciá-los em agradáveis momentos pessoais e coletivos.
      Assim, ritmo e cadência são, juntos, a melodia impressa por nós em cada letra nos apresentada (os acontecimentos!), são o equilíbrio a objetivar a harmonia do ser humano em seu tratado de desenvolvimento intelectual e social. A tradição cristã nos diz que Jesus Cristo, aos 12 anos, em festa de comemoração do povo judeu, foi encontrado por sua mãe, Maria, no templo de Jerusalém com os sacerdotes. Ao fim desta passagem, a Bíblia diz: "e Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça". Ele tinha o equilíbrio de seus dons. O mesmo acontecimento para todo o povo judeu teve singularidade para um único, o menino Jesus, ele utilizou-se de sua subjetividade para dar melodia ao que lhe foi proporcionado, a visita ao templo de Jerusalém.
     Também nós podemos cadenciar, compassar os movimentos, ritmá-los, torná-los agradáveis, acordá-los com a nossa realidade. Teremos árduo trabalho, é a supressão de algo, é o acréscimo para o crescimento, a modificação dia após dia, retalhos, reerguimento, construção, equilíbrio, cadência!
       Podemos tomar a nosso favor o estranho, o inesperado. Transformá-los em dádiva!

Ramiro Teixeira.