domingo, 15 de maio de 2011

"Intelectualidades em outras épocas..."

Apresentação do livro "O Estado e Revolução", de Vladimir Ilítch Uliânov(Lênin)

     "A presente reedição aproveita um trabalho feito com notável dedicação, talento e probidade intelectual por Aristides Lobo. Ela surge em um momento propício, a pressão operária e o protesto sindical situam à nova luz a questão do espaço político democrático no seio de uma sociedade capitalista relativamente subdesenvolvida e dependente. Esse espaço político nunca fora criado antes, por vias burguesas. Ao contrário, os setores dominantes das classes possuidoras sempre procuraram impedir, por todos os meios, o aparecimento e a consolidação desse espaço político democrático no Brasil, anulando ou esmagando todas as tentativas históricas no sentido de conquistá-lo. Preocupados com o monopólio do poder econômico, cultural e político, esse setores das Classes dominantes impuseram seu próprio padrão de paz social, de estabilidade política e de organização do Estado. Assim, lograram excluir as classes subalternas de uma participação política eficaz e submeteram à dominação burguesa todas as organizações dos trabalhadores. A divulgação de 'O Estado e a Revolução' é extremamente necessária em um momento como esse, no qual o avanço operário colide com as contra pressões vindas tanto das 'ilusões constitucionais', quanto das 'manipulações populistas'. Concebido como arma de luta, o livro poderá desempenhar um papel deveras importante no despertar de condenados ao malogro. A ligeireza com que se confundiu o 'desenvolvimento' com a redenção nacional exige que se instrua os trabalhadores, os líderes sindicais e a juventude contestadoras em textos de reflexão crítica tão aguda sobre as limitações ao sufrágio universal, as debilidades intrínsecas da democracia constitucional e representativa, o caráter opressivo e repressivo da República democrática, a necessidade da revolução violenta para a instauração de uma democracia da maioria etc. Em particular, cumpre que se denuncie, sob todas as formas e com a força possível, a "fé supersticiosa no Estado", algo a que Lênin se propõe de ponta a ponta, seguindo a trilha dos fundadores do socialismo revolucionário. A leitura é tanto melhor quanto ela contempla também como e porque o proletariado deve primeiro conquistar o Estado burguês para, em seguida, transformá-lo e destruí-lo. Se não existissem outras razões, esta bastaria para dar a 'O Estado e Revolução' um lugar incomum em nossa estante dos clássicos do socialismo."

São Paulo, 6 de novembro de 1978-Florestan Fernandes.

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