segunda-feira, 27 de junho de 2011

"ensinamentos de (uma) avó..."

    Texto muito bem pautado extraído do blog do Melqui Fernandes em conversa com sua avó, numa dessas horas nas quais a gente aprende com os mais experimentados a ser mais ouvinte:

Maria, Maria...


    "Estávamos eu e minha avó sentados na calçada, numa dessas conversas despretensiosas, em que mal se percebe uma escola. Falávamos sobre banalidades, coisas do cotidiano, conteúdo vago, desses que escorrem pela boca, frouxamente, como água que segue talhando na pedra da alma o mais fino trato moral.
    Eis que na altura em que debatíamos algo, que os fatos subsequentes justificam meu esquecimento, corrigi-lhe palavra, frase ou expressão. Retrucou de pronto a Maria de nome, com certo deboche caprichoso que faltava as humildes marias do tempo de Jesus. Dirigiu-se a mim de modo quase instantâneo, como se o verbo apenas repousasse no palato esperando a justa oportunidade de ser lançado pela boca: 'Falo errado porque falo com você, se falasse com alguém mais importante falaria certo'.
    Emudeci. O silêncio indicava que nossa conversa ou lição moral havia terminado. E como quem o percebe mais que eu, Maria levanta da cadeira sem demonstrar nenhum ressentimento. Mas pelo contrário, num gesto que misturava altivez e misericórdia ela pergunta, finalizando seu triunfo sobre mim, herege da sabedoria popular: 'Quer um café'?"

quarta-feira, 22 de junho de 2011

"Intensificadores, refúgios e armadilhas..."

     Pensemos nas abstrações apresentadas nas relações mantidas entre as pessoas (e entre pessoas e coisas, por que não?) e estruturadas na língua portuguesa falada no Brasil, proporcionando o aprimoramento da aproximação no cotidiano. Entendendo a língua falada como parte de um campo mais complexo chamado comunicação, o qual também abrange outros meios para a comunicabilidade, como a palavra escrita e os sinais e gestos.

     Porquanto nos apropriamos dos graus, advérbios e intensificadores, para melhor nos expressar. Quando um simples gesto de aplaudir é menos carregado que um ato de euforia, este por sua vez cede espaço para um chamamento como o "viva", sendo este, ainda, menos expressivo que uma ovação, quando pelo entusiasmo apresenta-se a admiração por alguém ou por algo, ou por alguém em algo.

      Ora, um latão, daquele no qual comprávamos margarina e depois era utilizado para fazer um tipo de churrasqueira, o imaginemos vazio e sem furos (antes de fazê-lo instrumento para a socialização nos fins de semana e feriados!), se colocarmos algumas pedras a preencherem seu espaço, ele estará cheio; no entanto, ainda suporta que coloquemos nele areia, ela se encaixa nos espaços deixados pelas pedras, e assim estará mais cheio que antes; porém, nada nos impede de completá-lo com água, e ficará, então, transbordante.

     Uma pessoa pode ser considerada suportável, e à medida que a conhecemos, normal; ao se apresentar uma tal empatia se torna até legal; quando essa identificação se torna um tanto quanto próxima, a pessoa é, então, muito legal; até indispensável ao se estabelecer com ela um certo vínculo de construção, de trocas restritas e mútuas, espaços de se revelar como de fato é e não se enxerga a si mesmo, mas que o outro o faz perceber. O sentido inverso também ocorre, assim como interrupções através de decepções, afinal de contas o processo de humanização é constante, árduo e cheio de implicações.

     Nessas armadilhas, e ao mesmo tempo refúgio na linguagem espontânea do dia a dia, qual dos brasileiros não provou essa aproximação de afetividade, essa maneira de carinhosamente ser chamado de um simplesmente "irmão", nem que seja apenas em gestos?

Ramiro Teixeira.

terça-feira, 14 de junho de 2011

"Comentários para os estudantes..."

     E nessas indas e vindas, com discursos dos mais variados argumentos e defesas de ambas as partes, ora honestos, ora vitimizados; muitos deixam seus comentários sobre um dos mais polêmicos e recentes atos da política natalense, desta vez tocada pelos estudantes, e não poderia deixar de dizer, estudantes não golpistas, ao contrário do que afirmou nossa então prefeita Micarla Araújo de Souza Weber.
     Segue o link do blog do professor Edmilson, do departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

"Pressa, risco e riso..."

"Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção
(...) 
Não quero o que a cabeça pensa eu quero o que a alma deseja
(...)
Mas quando você me amar, me abrace e me beije bem devagar
Que é para eu ter tempo, tempo de me apaixonar

(...)
Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente
(...)
Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem
Tem essa pressa de viver
Meu bem, mas quando a vida nos violentar
Pediremos ao bom Deus que nos ajude
Falaremos para a vida: 'Vida, pisa devagar meu coração cuidado é frágil'

(...)
E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza
E arriscar tudo de novo com paixão
Andar caminho errado pela simples alegria de ser
Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo

(...)"

Mais um recorte de uma letra de música de Belchior (Coração Selvagem)!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

"...se não mata, fere..."

     Na última quarta-feira, 01 de junho, houve mais uma passeata dos estudantes da cidade administrada pela então prefeita Micarla Araújo de Sousa Weber.
       A manifestação, ou seja lá qual nome atribuam ao ato de descontentamento com a atuação da gestão política em nossa cidade (se bem que esse descaso não é tão recente assim), ganhou boa repercussão entre os atores políticos mais ativos na sociedade, salvo alguns poucos que souberam do ocorrido pelas mais variadas fontes (televisivas, rádio, internet, amigos ou mesmo que viram a multidão paralisando algumas avenidas da Natal).
    Curiosas são as opiniões de alguns daqueles não participantes da ação, despertando minha reflexão: ao voltar para casa depois da passeata, ouvi uns comentários sobre o acontecido. Ora, um rapaz conversando com um amigo sobre seu trabalho, falando como estava sendo explorado por seus patrão. O tal rapaz é um vendedor, não sei em qual loja, universitário de uma instituição privada.
      No seu relato dizia que a imposição da empresa na qual estava trabalhando era ele vender produtos totalizando R$ 30.000(trinta mil reais) ao fim do mês, ou seja mais de R$ 2.000(dois mil) por dia, pois, contando com suas folgas semanais, ele não labuta todos os dias no mês, e tem que compensar o não-vendido com vendas adicionais nos dias trabalhados, caso contrário seria demitido; já na sua faculdade, relatava professores totalmente apáticos quanto ao ensino em sala de aula. Não entrando no mérito de cada discussão nem na ação valorativa do mercado privado, mas o tal rapaz juntamente com seu amigo chegou a dizer: 

"ainda por cima numa hora dessas o trânsito engarrafado por causa desse povo que não tem o que fazer e vai protestar, como se fosse tirar Micarla do poder".

     Me pergunto, se não for pela conscientização política levada à população, reivindicando por seus direitos, pois se há protesto, subentende-se, algumas medidas gestoras nas políticas(públicas) não estão suficientes nem cumprido com a palavra lançada em campanha eleitoral, qual será o modo pelo qual se chegará a uma equidade política e social? Pois, ao pensar que ficar resmungando e atendendo aos R$ 30.000 ou R$ 60.000 do patrão e suportando o descaso com a educação resolverá tal situação ou pelo menos assegurando o seu "pé-de-meia", creia que haverá outra maneira de você ser mais explorado frente a novas situações individuais erroneamente encaradas como subir na vida após um diploma universitário ou com um salário para pagar a prestação de um carro financiado em 36, 48 ou 50 meses.
      Infelizmente, o sistema político implantado atualmente tirou os principais valores sociais de direitos para a população, deixando-a vendada e a mercer de princípios capitais de exploração, nos quais só nos restaria acatar ordens dos proprietários do mercado e esperar pela próxima eleição.
Muito mais que criticar quem está lutando pela melhoria do sistema político e social da cidade, como se nada pudesse mudar, seria mais salutar refletir sobre como está sendo de fato gerenciada sua cidade.
     E pior, pessoas conhecedoras da luta dos estudantes e universitários também estão deturpando a identidade dos contestadores com predicados deturpadores.
Se não conseguimos tirar o mal gestor do poder, ao menos sua gestão será marcada pela exposição da insatisfação do povo, cada vez mais com oportunidades de serem conscientizados.

Ramiro Teixeira.