terça-feira, 28 de dezembro de 2010

"O tempo e a vida..."

Mãos dadas

"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.


O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"A mídia e o social..."

     Diante da gama informacional pela qual passamos na atualidade, entre os anos de 2000 e 2010, considera-se estruturante o papel da mídia na sociedade.  Ora, utilizamos como termo conceitual o seguinte: meio de comunicação responsável pela transmissão de informações (por informação entende-se tudo que orienta e disciplina a parcela social). Dessa forma, o órgão detentor dos veículos de comunicação utiliza-se de ferramentas para multiplicar os interesses da parte dominante para a manutenção de sua posição elitista.
      Tal conservação se dá de modo quase imperceptível, a propagação midiática não esboça maiores esforços no exercício do seu papel hegemônico, atribuindo-lhe um caráter global e natural mediante simbologias e rituais atuantes no subconsciente, nas relações interpessoais e nas estratificações do cotidiano vital, encerrando a força coercitiva das estruturas sociais na construção dos estados normativos (influência na sociedade).
    Essas estruturas, carregadas de ideologia, propagam-se na densidade social (coletivizações de massa, tanto no espaço micro quanto no macro). Nós, os indivíduos, por nossa vez, incutimos tais ideias em nosso dia-a-dia, transmitindo-as em nossa vida comunitária e moldamo-nos (pensamento, consciência e virtude) por uma obediência tal a ponto de enxergarmos tais "verdades" como únicas e necessárias. No entanto, não percebemos a parede de vidro pela qual estamos nos norteando.
     É estritamente necessário, pois, não apenas compreender a urgência de mudança no sistema político e econômico, mas, sobretudo, desmascarar o caráter alienante provocado pela força da mídia na opressão no mundo material e subjetivo.

Ramiro Teixeira, 18/10/2010.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"Artisticamente imitada: A vida!..."

     "Ando tão apertada de costura que se o dia tivesse vinte e cinco horas ainda sobrariam três ou quatro botões para pregar. Essa vida anda depressa demais. Quando menos imagino, o dia já se foi, esse desaforado!
     Vivo para ajeitar as mulheres. Prepará-las para ocasiões. São jantares, casamentos, formaturas. Vivo para ajudar a esconder os defeitos(...) Em situações mais raras saliento as virtudes.(...)
     Eu me exercito no ofício de costurar tecidos desde os 16 anos. Herdei o dom de minha mãe, que por sua vez o herdou de minha avó. Uma ancestralidade!
    Fazer roupas é um jeito de ver os bastidores dos acontecimentos. Enquanto todo mundo vê a roupa por fora, eu a vejo por dentro, nos seus avessos. O que vejo do tecido é sua sustentação primeira, sua trama. Um tecido só é bonito de verdade à medida que possui um avesso que o sustenta. A beleza externa só tem sentido porque há um alicerce no contraponto. Interessante, mas as pessoas são semelhantes aos tecidos. Se não há uma trama de sustentação, não há beleza que possa sobreviver aos desmandos do mundo.
(...)
     Mulheres por dentro e por fora. Mistérios que me despertam coragem para continuar costurando. Minha máquina é minha realidade. É dela que parto para os meus sonhos. O que materialmente corto, ajusto e costuro, de alguma forma repercute dentro de mim. Eu toco constantemente os bastidores da vida. E é a partir desses avessos que construo pontes que me levam para outros mundos.
     Eu costuro a realidade com linhas de sonhos. Imagino. E no ato de imaginar sou retirada para dançar, repito a sobremesa, comento a elegância dos adornos; troco olhares com o garçom. Rodopio enquanto danço pelo salão; recebo elogios pela escolha do penteado, a seda do vestido. Tudo isso sem sair de minha máquina. As linhas que entrelaçam os tecidos suturam o meu coração a realidades inexistentes.
     E por isso sou especialista em ver além das aparências. Sei do que os tecidos são capazes e as viagens que proporcionam. Se não tivesse essa habilidade não me restaria muita coisa. A vida na castidade, o corpo preservado, as pernas sem destinos, os cabelos sem fitas, o pescoço sem colares. A vida mais perfeita e absoluta normalidade. Nenhum risco no calendário, nenhum dia convidado a sair do esquecimento, nenhum convite pregado na geladeira, nada que anuncie um sábado com aspecto de primavera: horário marcado no salão, atenção especial para um corte de saia e blusa, retoque de tinta no sapato de ocasião.
      Eu viajo é nas cores de tecidos. Quilômetros e quilômetros de linhas que me levam pelo mundo afora. O meu porto é a minha máquina.(...)
De Belo Horizonte a Paris eu levo um segundo. Não pago passagem, nem tenho problema com excesso de bagagem. Eu sou leve. Esqueço as roupas. Volto pra buscar. Troco a cena. Mudo o clima.
      Faço vir a chuva para dormir logo. Invoco o sol para o meu mergulho e imagino a neve para amenizar o calor. Acendo lareiras nas noites frias; encontro a promissória perdida; ganho na loteria, e divido o prêmio com os pobres.
    Na angústia adio a decisão. Na agonia antecipo o fim. Na alegria prolongo o início. O tempo não tem poder sobre minha velha máquina de costura. Ela o desafia constantemente. Desafio que demonstra intimidade, parceria. Minhas pernas não andam, mas chegam. Chegam aos lugares que aos sonhos pertencem.
(...)
      O ritual do sepultamento terminou ali, na ressurreição que a máquina de costura me proporcionou.
    Há coisas que a morte não sepulta porque pertencem à vida eternizada(...)"

(Mulheres de Aço e de Flores, de Fábio de Melo; 15ª edição, páginas111-121: A costureira; Gente Editora)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

"Detalhamentos e Ponderação..."

     Habituados a ser "engolidos" pelo que nos é apresentado rotineiramente, nem sempre despertamos para o entendimento adequado dos fatos aos nossos contextos, sejam casuais ou causais, pois para melhor aproveitamento das notícias, das soluções propostas, das argumentações, das conclusões, e de tudo mais que abarque a série de respostas para as conflitantes instruções diárias, é preciso um olhar atento sobre as minuciosidades do todo.
     Para atingir o objetivo(não proposto pela força ideológica) da vida comunal, da vida sociável em partilha com os indíviduos, geralmente julgados pelas aparências de suas atividades culturais, sociais, políticas, ou mesmo sem pretexto significativo, não podemos nos prender a meros estereótipos. Ora, os valores morais das pessoas não são rigorosamente iguais, umas adotam certos discursos de verdade, outras os desconhecem e recriam suas próprias habilitações no convívio entre seus pares. No entanto, na análise total dos fatos, todos apresentamos uma semelhante estrutura de vida(a de sobrevivência!).
    É necessários, pois, pormenorizar as ações, as situações de cada povo, atribuindo-lhes caráter não diferente, mas, próprio, particular, essas diversidades não devem ter juízo de valor, mas de agregação. O respeito com o qual merecem ser tratadas não têm mérito pejorativo, e sim, construtivos de sua peculiaridade.
    Assim, é louvável valorizar o conhecimento dos detalhes disfarçados na correria do dia-a-dia. Atingimos um grau tão elevado de instantaneidade, a ponto de não mais nos ater em discussões epistemológicas(quem trata disso é taxado das mais inúmeras maneiras de se nomear um "faz-nada"!). É uma corrida a todo momento pelo resultado final, que já nem nos damos conta de viver as etapas orientadoras para as finalidades humanas. Além disso, o conhecimento humano e sua natureza perdem espaços para as máquinas.
     Seguindo a ideia de vários provérbios, exortações, ensinamentos, onde o todo aparece como conjunção de infinitas partes, apreende-se a modalizar a importância de cada particularidade na construção de alguma coisa, seja ela um texto, um livro, uma música, um relacionamento amoroso, amigável, uma sociedade etc. O detalhamento, a arte de serem perceptíveis e de percebermos os detalhes contribuem significativamente para a lógica da criação(se é plausível falar disso!).
     Pela consideração de que tudo devidamente tratado na vida é um risco, apostaria na dinâmica entre ponderação e detalhes!

Ramiro Teixeira.

domingo, 31 de outubro de 2010

"Fantasia cultural e artística..."

"E se, de repente
A gente não sentisse
A dor que a gente finge
E sente
Se, de repente
A gente distraísse
O ferro do suplício
Ao som de uma canção
Então, eu te convidaria
Pra uma fantasia
Do meu violão..."
(Chico Buarque de Holanda)

     Fantasia é algo para o qual as pessoas se projetam numa tentativa de refrigério, de fuga da "enclausurante" rotina, como as celebrações carnavalescas medievais, nas quais esquecia-se a posição nobre para desfrute(da libido!). Para isso são utilizados vários meios no prosseguimento da imaginação humana, seja através da História, das artes, da cultura, da mesma forma em que há as diversas maneiras de se viver em fantasia.
     Ora, por mais que estejam no campo político e social democrático, as eleições modernas brasileiras estão repletas dessa característica fantasiosa artística. Vivemos um certo querer de mudança da realidade na qual estamos inseridos, e o sistema político do Brasil nos convida pelo inverso a essa mudança: uma alienação pela qual entende-se a realidade como favorável para cada eleitor do candidato "Tal". Utiliza-se o discurso(na política) sério para enganar o cidadão quanto à sua posição social, cultural e educativa, não o faz pensar: demagogia.
     A arte politicamente social construtiva do indivíduo não causa impacto positivo proporcional ao seu valor, é encarada como mera brincadeira e passageira, como simples fantasia, fuga da realidade. No entanto, se prestarmos um pouco mais de atenção às letras devidamente "suadas", poderíamos recolocar os papeis destinados a cada seguimento da sociedade, e a "fantasia do violão", de Chico, não se resumiria a meros acordes.
       Bom, hoje é o dia do 2º turno das eleições à presidência da República, e as pessoas "brigam" pelos seus candidatos, como se houvesse algum diferente em alto grau de transformação social.
Como diz um colega de sala nas discussões em Ciências Sociais, "acredito mais na arte que na política".

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

"Dialética..."

     Segundo as explicações do dicionário, dialética pode ser uma argumentação dialogal ou mesmo um processo no qual utiliza-se da razão e da prudência para se obter entendimento e compreensão nas conclusões e deduções sobre determinados assuntos.
    No campo filosófico, de acordo com as tradições de alguns pensadores, como Platão, Kant, Hegel, Marx e outros, as discussões giram em torno de uma análise de ideias opostas para se chegar a uma conclusão, ou seja, a defesa de uma tese em contraponto com sua oposição no objetivo de uma síntese conceitual.
      "Trocando em miúdos": vivemos em constante exercício dialético.
     Somos a todo instante bombardeados de novos conceitos e teses no dia-a-dia, recebemos informações de todos os tipos variados possíveis sobre os mais diversos temas, do mais simplório ao mais complexo, sempre passando pelos mais medíocres. Seja uma preferência musical, literária, jornalistíca, midiática; o melhor caminho, mais curto ou não, para se chegar ao trabalho; ou uma opção profissional a qual ditará seu passos pelos próximos(ou longos) anos de sua vida.
    As ideias estão, dessa forma, em movimento, como que "flutuando sobre nossas cabeças", num contínuo construir de proposições(por vezes encaradas como irrefutáveis).
    Tais afirmativas vão se agregando ao nosso vocabulário cotidianamente, e, sem perceber, vamos, pouco a pouco, traçando os pontos convergentes mais plausíveis e convenientes no plano pelo qual valoramos a tudo e a todos. No entanto, essa "perfeição" traçada por nós mesmos sofre imponderações, nem sempre superficiais, e, em seguida, somos surpreendidos com uma segunda opinião tão irredutível quanto a primeira, e apresenta-se, então, um novo estado dialético(novo caminho a se aventurar).
     A formação do ser humano é feita assim: aprendizado constante, construção de valores refletidos na sociedade e lapidação pelas relativizações as quais somos impelidos a continuamente nos render.

Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Aprender..."

     No curso da nossa vida passamos por um processo social, embora muito particular na maneira de cada indivíduo encará-lo, pelo qual descobrimos a cada dia os valores de tudo que nos rodeia e através do qual expandimos nossos próprios conhecimentos adquiridos neste sistema. Essa metodologia se utiliza com extrema propriedade da funcionalidade do "aprender" humano, da dependência do homem no decurso constante do novo.
     Dessa forma, diariamente vai se construindo a sociedade na qual vivemos, numa dialética entre o homem e a sociabilização. Os conceitos, as categorias, os pressupostos, assim como os paradigmas, ora são confirmados, ora são refutados, à medida na qual a capacidade intelectual absorve e descobre aperfeiçoamentos sobre a vida e seus advérbios. Nessa organização(para muitos pode parecer um tanto quanto independente) a acumulação do saber é relevante, para isso o desempenho de cada um deve no, "aprender", ser encarado com afinco, seja aluno primário, fundamental, médio, universitário, pós-graduado ou mesmo os contempladores de atividade não escolar formal, mas da simplicidade do aprendizado do conhecimento ordinário.
     Importante também é a figura do professor, formal ou não, capaz de despertar no ouvinte o impulso do desdobrar-se em novidades e superação.
      No entanto, por vezes, a formalidade encobre a sutileza e a beleza do ensinar cotidiano. Ainda assim, não pode subtrair nem reduzir os efeitos morais da maestria pedagógica(os sabores da educação!).
   Antecipadamente, um belo reconhecimento a todos as formalidades e não-formalidades do agir professoral.

Ramiro Teixeira.

sábado, 9 de outubro de 2010

"Força de ideias..."

       "(...) nesse sistema, as ideias são apenas parcialmente autônomas. É verdade que a sociedade não pode existir sem ideias, mas essas ideias são eficazes precisamente na medida em que são sociais, na medida em que recordam aos indivíduos ao que são vinculados e ao que prestam sua lealdade. Durkheim chamou essas ideias de 'representações coletivas'. Essas representações podem ser concebidas como partículas carregadas que circulam entre os indivíduos e alojam-se por um tempo em suas mentes, mas são partículas que foram originadas nos rituais do grupo. Isso não quer dizer que a consciência humana não exista; mas são nesses momentos em que as pessoas focam suas consciências sobre o grupo(ou seja, nas situações de alta densidade social em que ocorre um ritual) que estas se tornam um poderoso instrumento que conduz a vida social de cada um. 
      As pessoas não precisam estar em permanente contato com os outros para que a sociedade exerça sua influência. As ideias cumprem esse papel nos intervalos entre os rituais, ou nas circunstâncias em que os contatos não costumam ser muito ritualísticos. Os símbolos são necessários para a sociedade, mas eles também surgem fora dela. É importante lembrar que não há nada misterioso nisso. As ideias são criadas e carregadas de significado social nas circunstâncias em que ocorrem os rituais, mas depois disso os indivíduos se dispersam e levam essas ideias consigo, trocam-nas com os outros indivíduos nas conversas e utilizam-nas para orientar seu próprio pensamento e para tomar suas próprias decisões e, num determinado momento, essas ideias voltam a figurar em um contexto no qual são carregadas com um novo significado social. 
   Podemos visualizar os indivíduos em um espaço físico e abastecendo-se de 'cargas' morais especiais, toda vez que tomam parte em uma reunião em que todos os indivíduos voltam suas atenções para os outros. A intensidade e frequência da participação das pessoas nesse tipo de situação exercem um efeito crucial na moldagem de cada indivíduo.
     O modelo de Durkheim nos apresenta um mundo com dois níveis. Nós pensamos a partir de nossas ideias sociais, e essas ideias formam o conteúdo de nossa consciência. Nós não percebemos o significado simbólico de nossas ideias porque as tomamos como dadas. Elas são como um parede de vidro através da qual enxergamos o universo, e sequer nos damos conta de sua existência até o momento em que ela se quebra em virtude de uma ruptura social. Mesmo quando isso acontece, nossa tendência costuma ser a de punir a pessoa que provocou a ruptura, em vez de dar atenção ao fato de que estamos circundados por uma parede de vidro. 
     Portanto, Durkheim concebe a sociedade como tendo um nível consciente e superficial, e uma estrutura inconsciente no âmbito da qual operam verdadeiras determinações. Concebemos a nós mesmos como racionais, como senhores de nossos destinos; na realidade, nossa própria racionalidade nos é dada pela estrutura social na qual habitamos, uma estrutura que nos forma de tal modo que nos leva a pensar de uma maneira e não de outra."  
“A tradição durkheimiana”. In: COLLINS, Randall. Quatro tradições sociológicas. Petrópolis: Editora Vozes, 2009. (pp. 157-204)

domingo, 3 de outubro de 2010

"Defesas..."

      É evidente a defesa ferrenha de alguns indivíduos em relação ao ser ponto de vista sobre os mais diversos assuntos, seja um time de futebol, uma banda musical, uma espiritualidade etc.; defendemos nossas convicções com tanto ardor a ponto de não dar espaço a uma segunda opinião(talvez até melhor que a nossa!).
      Algo interessante que pude observar ainda mais nessa campanha eleitoral é a veemência com a qual alguns de meus colegas defendiam seus candidatos, principalmente à Presidência e ao Senado. Candidatos defendidos com tanto rigor, com tanta certeza que o mesmo político era posto num patamar de salvador, e segundos depois era o culpado de todas as desgraças.
     Eu só pergunto-me em qual ponto esses eleitores se enganaram, tanto com os seus quanto com aqueles que eles acusam. Bom, se essa comunhão se limitasse apenas em publicitar opiniões, seria válido. No entanto, meros debates se tornam início de uma brava divergência culminando até em mal-estar dos dissidentes(presenciei  nos corredores da UFRN uma quase luta em vias de fato!). Acho que não precisa chegar a isso.
     No final das contas, os homens do poder público outrora adversários se unem em coligações partidárias, dividem a mesma refeição e usufruem das mesmas regalias políticas(diga-se de passagem, essas não são postas às mãos dos seus eleitores.)
      Portanto, acho uma incoerência sem tamanho entrar em discussões políticas para defender esse ou aquele suposto salvador íntegro e isento de qualquer suspeita.
     Prefiro apostar em ideias: educação, saúde e consciência, independente de quem as realize.

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

"...tijolo com tijolo..."

"...tijolo com tijolo num desenho mágico e lógico..."

      Mais uma das frases escritas pelo poeta Chico Buarque de Holanda, extraída da letra "Construção", na qual retrata a visão sobre o cotidiano de um trabalhador simples ao buscar ter o que somente sua própria imaginação lhe concebe numa mistura de ficção e realidade, percepção e distância.
    Quantos de nós não saem pela manhã com infinitos planos e verbos detalhados na música, talhados de desejo, sonho e paixão? Ora, um dos grandes movedores da construção diária é o impulso fomentado pelo movimento dos ânimos guiados pela necessidade de fazer algo "como se fosse a última" chance de fazê-lo. Isso causa um verdadeiro alvoroço dentro daqueles impelidos por essas paixões.
      E onde estaria a graça da vida senão na surpresa causada por cada valor incorporado no nosso dia-a-dia? Os valores adquiridos no cotidiano são o alicerce e as paredes da nossa personalidade, e como um bom construtor, jamais poderá se ter em conta apenas a mágica da vida, mas sobretudo, a relação de solidez traçada pelo "eu" e pela sociedade.
       Pois, para que o tijolo dê forma a uma casa, é preciso que ele se consolide com os outros tijolos ao seu lado, e é imprescindível o papel do cimento. Dessa maneira, pode-se falar em poesia, em mágica, em representações, no entanto, é preciso considerar, e muito, as construções com as quais cada indivíduo contribui para o fazer social.

Ramiro Teixeira.

domingo, 19 de setembro de 2010

"Caminho(s)...!"

     Modernidade: eis uma das correntes cada vez mais articuladas atualmente.
    Longe das discussões históricas sobre o termo, podemos encará-la como algo inerente ao nosso cotidiano, algo extremamente vivo e presente. As novas maneiras de pensar a correria diária sobrevoa a ótica moderna, é um novo sempre surgindo com rapidez de impressionar(tanto aos mais velhos quanto aos mais novos, tanto aos conservadores quantos aos "liberais").
    Essa necessidade de associação entre tempo-espaço diminui em muito as dificuldades, por um lado, das relações interpessoais; comunica-se mais rapidamente com alguém em outro ponto da cidade, por exemplo; questões outrora necessárias de emprego de tempo e burocracia são resolvidas quase que instantaneamente. É a dialética entre a otimização e a pessoalidade tão vigente em nossa conduta diária. Reaproveitamento das horas.
    Essa fluidez( porém, entravada!) permanente no diálogo também fecha espaços para as relações mais intimistas. À geração da net perdeu-se a conotação das escrituras, à mão, de cartas endereçadas à rua tal, número tal etc. Esvaiu-se, em alguns âmbitos da norma de investimento tanto pessoal e profissional, querer encontrar-se em grupo presencialmente. Vê-se muito mais cômodo e menos castigante conversar via sites de relacionamento, embora o ser humano continue dependente de relações de cheiro, de tato e de cores carnais.
Talvez tantos rumos a serem tomados entrem em colapso no imaginário da sociedade.
       Em meio a toda essa parafernália de diagnósticos do dia-a-dia encontra-se a teoria do "pós-moderno", onde a comunidade coletiva reaparece na materialidade do porvir. Esse novo pensamento de adesão comunitária do "dar-as-mãos" ainda não é encarado com a devida proporção(dada pelo escritor Michel Maffesoli, sociólogo francês). No entanto, vê-se que o distanciamento entre as pessoas causa um certo temor, e direcionamento cada vez maior para os outrora diferentes.

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Palavreado..."

      Qual será o motivo que impele o ser humano a proferir palavras?
     Ora, a palavra é parte integrante da linguagem, e esta nos serve de aparato para a comunicabilidade. O homem como ser sociável precisa manter-se em dialógica com os seus semelhantes, ele próprio busca a todo instante pronunciar-se, de maneira tal que sua auto-afirmação perpassa pelo rastro dos verbos. 
    A partir disso recriam-se os caminhos, sejam os escritores, os compositores, os poetas, os literatos, ou mesmo os amadores(com a não menos importante significação do mercado profissional da palavra) cada qual com a sua especificidade. Acredito na ideia destes não conterem sua visão própria, e terem, assim, o ímpeto de enunciar suas peculiares interpretações. Aquilo visto por muitos sem espanto ou mesmo simplório, alguns o observam com uma gama de detalhes impressionante.
     Descrevem pormenores enriquecedores, dignos de corroboração. Assim canta Belchior: "...enquanto houver espaço, corpo, tempo e algum modo de dizer...".
      Nessa perspectiva, apresento minha admiração pela Literatura de Cordel, sobretudo por uma apresentação a qual assisti na 62ª SBPC/2010(Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) na UFRN, por pecado meu, não guardei o nome do poeta. Ele descrevia as situações cotidianas de sua cidade interiorana, logicamente com dose humorística, o senhor era(é) gago!

Ramiro Teixeira.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"Construções..."

Texto extraído do livro "Perdas & Ganhos", de Lya Luft, 28ª edição, páginas 21-23, Editora Record. 2003.


"A marca no flanco"


      "O mundo não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui forma, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
      É uma idéia assustadora: vivemos segundo o nosso ponto de vista, com ele sobrevivemos ou naufragamos. Explodimos ou congelamos conforme nossa abertura ou exclusão em relação ao mundo.
      E o que configura essa expectativa?
   Ela se inaugura na infância, com suas carências sem sempre explicáveis. Mesmo se fomos amados, sofremos de uma insegurança elementar. Ainda que protegidos, seremos expostos a fatalidades e imprevistos contra os quais nada nos defende. Temos de criar barreiras e ao mesmo tempo lançar pontes com o que nos rodeia e ainda nos espera. Toda essa trama de encontro e separação, terror êxtase encadeados, matéria da nossa existência, começa antes de nascermos.
      Mas não somos apenas levados à revelia numa torrente.
      Somos participantes.
    Nisso reside nossa possível tragédia: o desperdício de uma vida com seus talentos truncados se não conseguirmos ver ou não tivermos audácia para mudar para melhor-em qualquer momento, e em qualquer idade.
    A elaboração desse "nós" iniciado na infância ergue as paredes da maturidade e culmina no telhado da velhice, que é coroamento embora em geral visto como deterioração.
    Nesse trabalho nossa mão se junta às dos muitos que nos formam. Libertando-nos deles com amadurecimento, vamos montando uma figura: quem queremos ser, quem pensamos que devemos ser- quem achamos que merecemos ser.
     Nessa casa, a casa da alma e a casa do corpo, não seremos apenas fantoches que vagam mas guerreiros que pensam e decidem.
Constituir um ser humano, um nós, é trabalho que não dá férias nem concede descanso: haverá paredes frágeis, cálculos malfeitos, rachaduras, Quem sabe um pedaço que vai desabar. Mas se abrirão também janelas para a paisagem e varanda para o sol.
     O que se produzir-casa habitável ou ruína estéril- será a soma do que pensam e pensamos de nós, do que nos amaram e nos amamos, do que nos fizeram pensar que valemos e do que fizemos para confirmar ou mudar isso, esse selo, sinete, essa marca. Porém isso ainda seria simples demais: nessa argamassa misturam-se boa-vontade e equívocos, sedução e celebração, palavras amorosas e convites recusados. Participamos de uma singular dança de máscaras sobrepostas, atrás das quais somos o objeto da nossa própria inquietação. Nem inteiramente vítimas nem totalmente senhores, cada momento de cada dia um desafio.
       Essa ambiguidade nos dilacera e nos alimenta. Nos faz humanos.
    No prazo de minha existência completarei o projeto que me foi proposto, aos poucos tomando conta dessa tela e do pincel.
      Nos primeiros anos quase tudo foi obra do ambiente em que nasci: família, escola, janelas pelas quais me ensinaram a olhar, abrigo ou prisão, expectativa ou condenação.
      Logo não terei mais a desculpa dos outros: pai e mãe amorosos ou hostis, bondosos ou indiferentes, sofrendo de todas as naturais fraquezas da condição humana que só quando adultos reconhecemos. Por fim havemos de constatar: meu pai, minha mãe, eram apenas gente como eu. Fizeram o que sabiam, o que podiam fazer.
       E eu...e eu?
    Marcados pelo que nos transmitem os outros, seremos malabaristas em nosso próprio picadeiro. A rede estendida por baixo é tecida de dois fios enlaçados: um nasce dos que nos geraram e criam; o outro vem de nós, da nossa crença ou nossa esperança."

segunda-feira, 12 de julho de 2010

"de volta ao Brasil..."

     Bom, com essa pequena cobertura da mídia sobre a finalíssima da Copa 2010 e sobre a campeoníssima Espanha, textos bem elaborados, sobretudo na descrição dos detalhes, a tal câmera lenta-lenta, as caricaturas da torcida com sua emoção de presenciar parte do museu futebolístico mundial e a dos jogadores a cada momento decisivo ao passar do tempo nas partidas, parei com mais entusiasmo ao ver uma dessas reportagens hoje. Trazia um pequeno texto ressaltando a importância do Iniesta, autor do gol na final, para a monarquia espanhola (atos politicamente corretos deixemos de lado).        
      Ele pôde "oferecer" a tal esperada Taça mundial (ora, por vezes, é mais exultado aquele que objetiva o propósito-que faz o gol!), ainda mais por esperarem há muito pelo título... tabus quebrados, e desconfirmada a "amarelidão" da fúria espanhola (que eliminou a Alemanha, que eliminou a Argentina, que zombou do Brasil, os mais cotados a campeão) na "hora do vamos ver". Quase compartilhei com a alegria da torcida campeã, ou mesmo com a garra das torcidas dos times vibrantes nas fases finais. Sim, porque aquele slogan "sou brasileiro e não desisto nunca" parece não ter mais a mesma validade na Seleção de Futebol do Brasil, sem querer ser mais um apontador do fiasco do nosso país nos últimos mundiais. Ao menos se compararmos o nosso futebol com o das equipes finalistas, a impressão é de uma representação "a ver navios", a mercê da disposição do adversário, tudo contrário à motivação que nós torcedores depositamos em nossos atletas. Descobre-se, então, a falta de objetividade frentes aos cinco campeonatos mundiais conquistados? tomara que não!
      Ao menos temos um esclarecimento: o Brasil não pode nem deve simplesmente ser reconhecido como "O país do futebol", como de costume. Atentemos, assim, para outra realidade bem mais valiosa e competitiva: a educação de ótima qualidade para termos onde gastar as energias de maneira mais refinada!

Ramiro Teixeira.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

"Alô... alô...!"

     Tal como uma peça do vestuário, a qual não esquecemos de usar, principalmente ao sair de casa, ganhou valor o tal do telefone celular. Ora, veste a calça, calça os sapatos, coloca a camisa, arruma o cabelo, passa um perfume, hora de sair, os mais variados compromissos(trabalho, faculdade, consultas, encontro com amigos etc, etc), fecha o portão...mão no bolso...ah!, meu celular...volta para apanhá-lo. Quem sai de casa, hoje em dia, sem seu aparelhozinho? Pouquíssima gente.
      Tudo bem, há pessoas totalmente dependentes dessa comunicabilidade, quantos negócios são "fechados" ao celular? quantos médicos atendem pacientes(ou não!) seus pacientes por uma simples ligação? quantas desculpas de atraso com o horário escolar ou profissional são dadas ao telefone? Enfim, é vasta a funcionalidade dessa engenhosa invenção. No entanto, muitos, mas muitos mesmo, não se vêem sem seu Nokia, LG, Sansung e outros tantos por aí afora, ainda que não tenham o menor motivo nem esperança de utilizá-lo(uns até o utilizam como um "sonzinho", um televisão), mas apenas pelo simples fato de tê-lo ali consigo, dentro do bolso. E quando a bateria está prestes a descarregar? é um "Deus me acuda": "Fulano, tem carregador tal aí?"; "Sicrano, aquele carregador que você sempre traz está por aí?"
         Experimenta desafiar alguém a passar um dia sequer sem esse rastreador. Poucos, muito poucos mesmo, aceitarão a solidão provocada pelo mais novo amigo.
       Há ainda aqueles portadores de mais de um celular, cada qual com sua operadora diferente(ora, só liga para alguém de mesma operadora, por isso, a variabilidade telefônica).
        Amantes ou não dessa tecnologia, é fato: já não é concebível a uma pessoa não ter um número individual!

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

"Recanto..."

     Nas idas e vindas do nosso dia-a-dia somos surpreendidos por diversos fenômenos(poderia até chamar de "onda" de novidades). Já há algum tempo venho me deparando com a moda do tal aparelhozinho fonógrafo: o MP4! No linguajar rápido do cotidiano-casa-trabalho-faculdade(e nesse trajeto a "carona" do velho e bom transporte coletivo: o ônibus!) pode-se dizer que virou "clássico" as pessoas embarcarem, colocarem os fones, ligarem seu pequeno MP4, se bem que já temos versões mais avançadas como MP5, MP6 e outros, fixarem o olhar em um ponto lá fora, ou mesmo fecharem os olhos, e curtirem as suas músicas prediletas
      Eu sempre fico preso à curiosidade de saber quais são as escolhidas pelas pessoas durante o trajeto. Penso na possibilidade das preferências serem a extensão do seu lar, uma maneira de sentir o conforto tão desejado ao voltar...hoje em dia boa parte das pessoas saem cedo de casa e só voltam tarde da noite.
       Muito simples: você seleciona as canções, ouve quando quer, na medida do possível, muda com apenas um clique nas teclas e pronto... um pequeno pedaço do seu cantinho está à sua disposição, te "devolvendo" o que bem cedo você deixou a duras penas: o sossego do seu sono!
      Bom, para muitos, o aparelhozinho pode ser apenas um mero distrativo ou um simples passa-tempo. Eu prefiro percebê-lo pelo olhar observador dos detalhes.

Ramiro Teixeira.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"A bola e o bolo..."

     Eu diria: é inevitável não perceber essa onda pairando em nossas ruas. A Copa do Mundo!
     Primeiro, as pessoas se unem e se reúnem bem mais: "então, vamos assistir ao jogo aonde?". Surgem as ideias. Vamos ornamentar a rua. Cada qual colabora com o dinheiro "disponível" (disposto), as fitinhas penduradas, a pintura nas calçadas, nos muros, as camisas amarelas, o churrasco, a bebida, para quem é adepto... ah!, o som, é imprescindível a música, as danças, a confraternização...
     Antes tem o hino nacional, dificilmente alguém não se enche de emoção ao ouvir o "brado retumbante" e não tem a vontade de estar lá, no estádio do partida (sobretudo agora, aos desavisados, a próxima Copa, a de 2014, será aqui no Brasil!).
     Apito inicial:
todas as atenções voltadas para as "quatro linhas", cada passe, cada lance, cada jogada torna-se o ápice do confronto. Aos mais fervorosos é reservada a conversa quase dialogal com os jogadores e treinador, como se cada um fosse assistente técnico do comandante. Não sem mencionar os sustos promovidos pelo time adversário. Quando é gol, então. É um "Deus nos acuda", xingamento pra todo lado. Até chegar o minuto no qual "fazemos" um gol... mais um "Deus nos acuda", desta vez de comemoração... gritos, abraços, pulos, fogos, e música, muita música.
      Continuação da partida.
      Outros gols, talvez.
Intervalo.

     2º tempo: se ainda prestarem atenção, como na primeira etapa, verão a boa continuidade do futebol, geralmente é assim. Os treinadores procuram melhorar seus times no intervalo, e assim se faz. Talvez ainda mais gols(contra ou favor!).
     Fim de jogo.
    Comentários do jogo. Continuação da "festa", muita festa, se o Brasil ganha, então, é até muito mais tarde; se perde, a festinha continua, logo de início com menos empolgação, mas, é só passar meia-hora para a vitalidade voltar. "Até a próxima disputa!"

    A socialidade do Mundial permite por hora o esquecimento da realidade, embora, promova a aproximação das pessoas.

Ramiro Teixeira.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

"Cenas..."

"[...]como se as palavras tivessem guardado seu sentido, os desejos sua direção, as ideias sua lógica; como se esse mundo de coisas ditas e queridas não tivesse conhecido invasões, lutas, rapinas, disfarces, astúcias. Daí, (...), um indispensável demorar-se: marcar a singularidade dos acontecimentos, longe de toda finalidade monótona; espreitá-los lá onde menos se os esperava e naquilo que é tido como não possuindo história-os sentimentos, o amor, a consciência, os instintos; apreender seu retorno não para traçar a curva lenta de uma evolução, mas para reencontrar as diferentes cenas onde eles desempenharam papeis distintos[...]"
(Microfísica do poder; capítulo II, página 15: Nietzsche, A Genealogia e a Historia; Michel Foucault)

     E a vida, dessa maneira, segue em diversos aspectos para as pessoas, nem todos têm o mesmo olhar minucioso ou genérico sobre aquilo ao seu redor. Então, umas encaram-na como um fardo, uma monotonia; enquanto outras com caráter de mutabilidade. Fica-se nesse "jogo" de continuidade e descontinuidade do já estabelecido. Aparecem, assim, os conservadores e os adeptos do "novo".
Ora, quanto é duro e mortificador "abandonar" as crenças. A todo instante elas impelem seus seguidores em suas atitudes, sobretudo em relação a novidades. Essas causam uma certa repulsa e desvelam um tal pudor.

Ramiro Teixeira.

terça-feira, 27 de abril de 2010

"Ao regime, às àguas..."

Curioso como a vida, por vezes, segue o regime das águas... as pessoas vêm, passam, vão...
Há ocasiões nas quais as famílias se reúnem,
cada uma em seu meio. Todos.
Os avós, os pais, os filhos, alguns primos,
os filhos dos primos, os sobrinhos, os cunhados,
os sobrinhos dos cunhados, os irmãos dos cunhados,
as esposas dos irmãos, e por aí segue. Todos se encontram.
A hora dos encontros diverge. Uma hora estão uns, outros não,
os que estavam observam o avançar das horas, e vão. Chegam outros,
mais tarde que a hora avançada que levou os primeiros. A mesma hora os trouxe.
Tarde para alguns, exato para outros, cedo para aqueles. A mesma hora vista por três diferentes referenciais, e ainda há o quarto, que considera tal hora como hora nenhuma ou nem considera hora de fazer alguma.
O coração se alegra com a casa cheia,
entristece-se com a partida, mas se conforta porque é o ciclo da vida
e comporta-se com outras chegadas.
É a mesma praia que recebe e devolve às águas as ondas.
Ondas pequenas, fraquinhas
ou turbilhões de metros cúbicos capazes de devastar o que encontram,
de inundar o ressequido. Mas, é a mesma praia.
É o mesmo coração, sofrido, experimentado,
ora desértico ora inundado, encharcado
ou apenas à espera da próxima "enxurrada de gente" com tudo que ela tem de seu, que recebe e devolve à vida as pessoas.
Mas é o mesmo coração.

Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

"descobrimento do Brasil..."

     Está bem, muitos discordam do termo "descoberta" do país Brasil pelos portugueses. O fato é: com esse episódio, duas culturas, "contemporaneamente" falando, puderam interagir, a ponto de iniciarem outros tipos de vida, e, encurtando aqui muitos anos da nossa história, a formação do povo brasileiro!
      Ora, se os brasileiros são vistos como uma gente "de bem com vida" não é pelo fato de não terem adversidades, de todo tipo, muito menos por serem um povo ocioso. Ao contrário, somos uma nação batalhadora, trabalhadora, cheia de paixões e virtudes. No entanto, como todos os outros povos, somos dependentes de educação, e mais, somos carentes dela (causa maior da descrença por parte de muitos de nós em relação ao país). Podemos, ainda assim, ver vários exemplos dessa luta diária pela sobrevivência educacional: Machado de Assis, Monteiro Lobato, José de Alencar e tantos outros anônimos, aqueles mesmos ao nosso redor, para a grande maioria.
     Está bem, esse "de bem com a vida" pode até ser um meio político para disfarçar e encobrir nosso lado venal: o jeito de fazer política; por isso mesmo podemos ter vários exemplos de produção do conhecimento social, estejam aqui os cientistas sociais, os antropólogos, os historiadores, os geográfos, entre tantos.
     Com a extensão do nosso país, não é pouca a nossa diversidade cultural. Cada região com sua peculiaridade e sua valiosa contribuição nacional. Parece-me faltar a união entre educação e política para, então, o povo brasileiro ser de fato notado, e não apenas com o rótulo de "de bem com a vida."

Ramiro Teixeira.

quarta-feira, 31 de março de 2010

"Alucinação..."

     Se são vícios inebriantes os estímulos de tantos nessa "caminhada", tenho a preferência por me debruçar na observância dos acontecimentos diários. Ora, o que de fato torna a vida explicitamente cativante senão seus próprios eventos? É certo, nem todos os fatos nos trazem alegrias ou contentamentos, de maneira a não me referir a todos, nem menosprezando os depreciativos, embora também esses componham o dia-a-dia, mas àqueles inevitavelmente dignos da destreza do fino trato humano.
     Esse sim, protagonista como é, e ao contrário de ser visto como objeto de estudo, no sentido de coisa apenas, com sua diversidade em vários ou todos os sentidos, proporciona aos outros, sobretudo a quem se propõe a se aventurar no universo do gênero humano, uma sucessão de "experiência com as coisas reais", portanto, passamos a ser coadjuvantes uns dos outros. Essa aproximação, além de intimidade, gera "cumplicidade", pois um homem por si só não realiza o cotidiano, nem mesmo o seu somente, por mais que se trate de um líder em suas mais diferentes caricaturas, mas precisa de outros indivíduos compartilhando de suas ideias e afirmações, e negações, ou seja, o homem não poderia fundamentar-se em nada que não fosse essencialmente humano, portanto, real.
     Essa clareza quanto à sua "independência" do não-humano nos libertaria de quantas outras arbritariedades não fosse o caráter de "necessário" embutido nas concepções impostas a nós, o qual, sem perceber, aderimos.
    Contudo, se olharmos atenciosamente para tudo isso, tanto para o fator meramente humano quanto para a realidade na qual vivemos e as trangressões presentes nela, e consciente de suas diferenças, veremos o quão é alucinante a experiências com as coisas reais...

Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 18 de março de 2010

"Humorização..."

     Quem não passou pela oportunidade de reconhecer algo de sua infância, sobretudo referente ao humor? Por exemplo: "ah, esse desenho animado é do meu tempo". Pois, o que marca(ou deveria) a nossa infância senão um bom entretenimento bem humorado? Quanto a isso quem não se lembra de "Os trapalhões", seja por ter visto propriamente na época("ao vivo") ou por reprises? Ao menos para mim, esse quarteto modelou a infância "engraçada" e cheia de magia.
      Ora, não foram poucas as vezes que esperei por um filme, um seriado e tantas outras mais produções deles. Sem querer mencionar a falta de criatividade da maioria dos humoristas atuais(ou pelo menos os supostos humoristas!), a versão com os quatro trapalhões faria um tal sucesso nos dias de hoje. Talvez isso explique a desconsideração com os vinte anos da morte de Mauro Faccio Gonçalves, o Zacarias trapalhão, hoje, 18/03. Logicamente o aniversário da morte de algúem não é motivo de comemoração, no entanto, sua memória poderia ser um pouco mais viva na mídia, veículo para o qual contribuiu significativamente com suas "trapalhadas", "risadas" e piadas.

        Aos verdadeiros ícones da "humorização"...

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 15 de março de 2010

"Dia da escola..."

     A história humana perpassa pela atividade do aprendizado, ou seja, teoricamente ou mesmo na prática, o ser humano foi adquirindo conhecimento acerca de algo(seja esse algo do mais simplório ou do mais complexo!). De maneira a estarmos fadados a aprender "coisas"...e as convenções sociais instituíram a Escola, "fonte de conhecimento e educação, tanto formal quanto informal, um espaço onde o aluno é o protagonista e aprende a desenvolver suas atividades, além de ser um laboratório de inclusão social, promovendo...o sentido de importância da comunidade".
     Eu me lembro, não perfeitamente, da minha iniciação escolar (como instituição), e a primeira ideia a qual me remeto é aos Estudos Sociais, então matéria(disciplina) introdutória...o contato com as regras sociais às quais somos submetidos: respeito, organização, símbolos, hierarquias etc, logicamente naquele tempo, 1991/1992, não eram essas mesmas palavras usadas. Até por que se assim fossem, nós, pelo menos eu, não assimilaríamos muito bem, ao menos na porcentagem com a qual o foi feito.
      Aquilo tudo me fascinava, um universo sendo planificado bem ali à minha frente, e traria consequências singulares. Conjugaria o meu viver acadêmico com o olhar atencioso sobre a vida social. Destacaria este mesmo blog, onde me dedico com algumas reflexões; um curso de iniciação em Teologia; e, sobretudo, não por acaso, o ingresso na graduação em Ciências Sociais.
       E é justamente nos corredores e nas salas desta nova escola(de 3º grau, de nível superior, ou seja lá quantos nomes mais lhe dêem) onde aumenta o meu respeito por esses institutos educacionais, contudo, consciente de que não se limitam por suas paredes, mas se tornam extensos também por meio dos seus alunos, "título" do qual não quero abrir mão.

     Aos muitos professores e colegas alunos...sucesso ao mundo escolar!

Ramiro Teixeira.

segunda-feira, 8 de março de 2010

"Socialidade feminina..."

Dia Internacional da Mulher.
     Definitivamente esse dia já não tem a mesma conotação de seu início, começo do século XX, onde enaltecia a luta feminina na atuação nos campos político, social e trabalhista, tomando ênfase após um incêndio numa fábrica em Nova Iorque. Decerto, o feminismo, valendo-se de seu discurso intelectual, procurava libertar-se de seus opressores e atingir direitos além dos já citados. O mundo viu-se diante de uma "onda" outrora desdenhada e agora "ameaçadora" da prepotência masculina, sempre em busca do exercício pleno do poder.
      Modernamente, aos mais desinteressados, basta um ramalhete, uma caixa de chocolates (nem tão caros assim!), um jantar bem elaborado, um cinema, uma noite de prazeres etc etc, para um 08/03 perfeito. Não que tudo isso não seja importante, verdadeiramente o é, no entanto, seria meramente pobre resumir-se assim. O problema está na escassez de cavalheirismo, a ponto de as mulheres já não esperarem com tanta avidez aquilo de que são merecedoras: reconhecimento pela sua essência, feminilidade.
      Ora, imagino esse dia um pouco diferente do qual temos. Sem querer, apesar disso, tratar com demagogia o assunto, mas, apenas reconhecer o porquê, as mutações e as vigências propostas a nós nesta data, pois entendo o toque da mulher na sociedade tão importante quanto força de liderança dos homens.
      Além do mais, são inúmeros os exemplos femininos durante toda a história, sobretudo no nosso dia-a-dia. Basta observar a peculiaridade de nossas mães, irmãs e esposas, assunto já comentado aqui mesmo neste blog.
     Como reconhecimento ao trabalho da mulher, desejo uma vida cotidiana à altura de suas convicções.


Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 4 de março de 2010

"lembrança e flores..."

"A história é um vasto cemitério de grandes verdades mortas".

     Essa frase foi repetida pelo professor de Sociologia da UFRN, Alípio de Sousa filho, e percebi que ela tomou tal proporção entre nós, alunos, (gerando alguns comentários um tanto quanto reflexivos). Ora, as sociedades sempre foram norteadas por pontos vistos por seus indivíduos como irrefutáveis(e aqui não entraria no mérito de discutir a aristocracia social, as divisões de classes etc.), no entanto, muitos desses pilares vêm perdendo seu poderio de regimento, e, aquilo outrora inquestionável, finaliza-se por abrir espaço para novidades tidas como preponderantes, mas que também ruirão a ponto de sermos chamados de retrógrados, antiquados e obsoletos.
      Dessa forma, a hipocrisia de pensarmos ser o mais valoroso intelecto dentre os homens nos taxa pelo desrespeito com o passado, porque seremos, mais cedo ou mais tarde, idem superados. Porém, se com respeito são tratadas as proposições alheias, as culturas para nós exóticas, teremos a oportunidade de viabilizar as nossas crenças, e o respeito será mútuo.
     Pois se torna-se inevitável a morte de nossas verdades, que ao menos elas tenham um sepulcro digno de lembrança e de flores.

Ramiro Teixeira.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Apetite do coração..."

     Longe das discussões médicas se é ou não o órgão mais importante do corpo, até por que não me arriscaria nessa conjetura, nem teria motivos para encarar tal mérito. No entanto, me chamou muito a atenção uma frase da letra "tanta saudade", de Chico Buarque de Holanda e Djavan: "...esgotar o apetite, todo apetite do coração...".
      Ora, esse músculo pode ser encarado com vários significados, contudo, vou me debruçar nas palavras de Cristo ao dizer: "onde está o teu coração, aí está tua riqueza".(não vou me lembrar da localização exata dessa passagem bíblica!).
     O coração se traduz popularmente em sentimentos, em intuição. Quem nunca ouviu a expressão "te amo do fundo do meu coração" ou mesmo "siga o que teu coração diz" ? Quantos não se deixam levar pelo caminho que seus sentimentos apontam quando a adrenalina nos atinge? Parece que toda coragem do mundo, de uma hora para outra, está dentro de nós...de repente aquela vontade de aproveitar ao máximo e melhor nosso dia-a-dia emerge...o coração, por sua vez, anseia por vida, e é digno do melhor banquete. Inevitavelmente, saciado, ele nos retribuirá com quanta bondade...até poderemos chamá-la de fato de "riqueza". Ter um bom coração é o mesmo que estar pronto para ser suporte de outrem. E que melhor aproveitamento de vida temos senão dar o melhor de si em favor alheio(seja um amor "eros" ou fraternal)?
     Se sedento está por algo novo, só nos impulsiona a esgotar seu apetite. Cada qual deve saber a necessidade do seu coração!!!

Ramiro Teixeira.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"O Carnaval..."

     Bem, não se sabe ao certo a origem das festas carnavalescas(se em comemorações pagãs, no início do Cristianismo, ou vinda dos gregos, com o deus Baco) e há uma série de divergências quanto à sua finalidade. No entanto, apostaria que democraticamente cada um escolhe o tipo de comemoração que lhe apraz.
     Ora, com a diversidade de hoje, tanto para foliões de rua como para espiritualistas, há uma gama de opções...poderia citar vários lugares legais para se passar esse mais que feriadão.
     Ao menos no Brasil, o Carnaval tomou proporções e estilos diferentes, desde o início, com o entrudo, século XVIII, passando pela sua época de ouro, no final do século XIX a 1950, até os dias de hoje, com os desfiles cariocas, o frevo pernambucano e o axé baiano etc(não poderia esquecer do bloco "os Cão", assim mesmo, no singular, em Natal/RN).
      A bem da verdade é que esse é um fim de semana muito esperado, no qual as máscaras(as usadas durante o resto do ano) caem, dando lugar às mais variadas personalidades até então trancafiadas. Quantos já não fizeram ou pediram isso ou aquilo dando a tal desculpa: "ah, é Carnaval" ? E, com esse jeitinho, se consegue o desejado...
    Aos religiosos, são oferecidos retiros espirituais..."reais" encontros com Deus, nos quais a carne celebrada é a do próprio Cristo. Também assim, muitos deixam aflorar seus traços mais íntimos.
     Enfim, dos mais ricos ao paupérrimo, do pecador ao "santo", sempre há uma maneira de extravasar antes da quarta-feira de cinzas...

Ramiro Teixeira.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

"Equlíbrio objetivado..."

Em um dos livros mais demorados que já li achei este texto:

     "...Num sentido muito real era um jogo, o jogo muito sutil e inteiramente sério de posição comparativa, que é jogado por todos os animais sociais. É o método pelo qual os indivíduos se colocam(...) de forma a viverem juntos. O jogo coloca duas forças contrárias em oposição uma à outra, ambas igualmente importantes para sobreviver: autonomia individual e bem-estar da comunidade. O objetivo é alcançar equilíbrio dinâmico.
    Às vezes e sob certas condições, os indivíduos podem ser quase autônomos. Um indivíduo é capaz de viver sozinho e não se preocupar com classe social, mas nenhuma espécie pode sobreviver sem interação entre os indivíduos. O preço derradeiro seria mais final que a morte. Seria a extinção. Por outro lado a subordinação total do indivíduo ao grupo é igualmente devastadora. A vida não é estática, nem imutável. Sem individualidade não pode haver mudança, ou adaptação e, em um mundo inerentemente mutável, qualquer espécie incapaz de se adaptar também está condenada.
     Os seres humanos em uma comunidade, quer seja tão pequena quanto duas pessoas ou tão grande quanto o mundo e não importa que forma a sociedade assume, se colocarão de acordo com alguma hierarquia. Os costumes e cortesias comumente compreendidos podem ajudar a aliviar o atrito e diminuir o stress de manter um equilíbrio funcional dentro deste sistema em mudança constante. Em algumas situações, a maioria dos indivíduos não necessitará comprometer muito de sua independência pessoal para o bem-estar da comunidade. Em outras, as necessidades da comunidade talvez exijam o máximo sacrifício pessoal do indivíduo, mesmo da própria vida.
     Nenhuma forma é mais certa que a outra, depende das circunstancias; porém nenhum extremo pode ser mantido por muito tempo, tampouco uma sociedade perdura se algumas pessoas exercem sua indivualidade à custa da comunidade..."

"Os Caçadores de Mamutes", 3ª edição, página 350, Terceiro Volume da Série "Filhos da Terra", de Jean M. Auel.