quarta-feira, 22 de junho de 2011

"Intensificadores, refúgios e armadilhas..."

     Pensemos nas abstrações apresentadas nas relações mantidas entre as pessoas (e entre pessoas e coisas, por que não?) e estruturadas na língua portuguesa falada no Brasil, proporcionando o aprimoramento da aproximação no cotidiano. Entendendo a língua falada como parte de um campo mais complexo chamado comunicação, o qual também abrange outros meios para a comunicabilidade, como a palavra escrita e os sinais e gestos.

     Porquanto nos apropriamos dos graus, advérbios e intensificadores, para melhor nos expressar. Quando um simples gesto de aplaudir é menos carregado que um ato de euforia, este por sua vez cede espaço para um chamamento como o "viva", sendo este, ainda, menos expressivo que uma ovação, quando pelo entusiasmo apresenta-se a admiração por alguém ou por algo, ou por alguém em algo.

      Ora, um latão, daquele no qual comprávamos margarina e depois era utilizado para fazer um tipo de churrasqueira, o imaginemos vazio e sem furos (antes de fazê-lo instrumento para a socialização nos fins de semana e feriados!), se colocarmos algumas pedras a preencherem seu espaço, ele estará cheio; no entanto, ainda suporta que coloquemos nele areia, ela se encaixa nos espaços deixados pelas pedras, e assim estará mais cheio que antes; porém, nada nos impede de completá-lo com água, e ficará, então, transbordante.

     Uma pessoa pode ser considerada suportável, e à medida que a conhecemos, normal; ao se apresentar uma tal empatia se torna até legal; quando essa identificação se torna um tanto quanto próxima, a pessoa é, então, muito legal; até indispensável ao se estabelecer com ela um certo vínculo de construção, de trocas restritas e mútuas, espaços de se revelar como de fato é e não se enxerga a si mesmo, mas que o outro o faz perceber. O sentido inverso também ocorre, assim como interrupções através de decepções, afinal de contas o processo de humanização é constante, árduo e cheio de implicações.

     Nessas armadilhas, e ao mesmo tempo refúgio na linguagem espontânea do dia a dia, qual dos brasileiros não provou essa aproximação de afetividade, essa maneira de carinhosamente ser chamado de um simplesmente "irmão", nem que seja apenas em gestos?

Ramiro Teixeira.

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