sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

"A uma atriz, Castro Alves..."

Branco cisne que vogavas
Das harmonias do mar,
Pomba errante de outros climas,
Viestes aos cerros pousar.
Inda bem. Sob os palmares,
Na voz do condor, dos mares,
Das cerranias, dos céus...
Sente o homem - que é poeta.
Sente o vate - que é profeta
Sente o profeta - que é Deus

Há alguma cousa de grande
Deste mundo de amplitidão,
Como que a face do Eterno
Palpita na criação...
E o homem que olha o deserto,
Diz consigo: "Deus 'stá perto
Que a grandeza é o criador".
E, sob as paternas vistas,
Larga rédeas às conquistas,
Pede as asas ao condor.

Inda bem. A glória é isto...
É ser tudo... é ser qual Deus...
Agitar as selvas d'alma
Ao sopro dos lábios teus...
Dizer ao peito - suspira!
Dizer à mente - delira!
A glória inda é mais: É ver
Homens, que tremem - se tremes!
Homens, que gemes - se gemes!
Que morrem - se vais morrer!

(...)

Espumas flutuantes, p. 140.

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